quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Dia do Flamengo

Era só o que faltava: por decreto assinado pelo governador Sérgio Cabral, o dia 17 de Novembro foi instituído como o Dia do Flamengo, revogadas as disposições em contrário. Com essas revogadas, danou-se tudo! Nem pensar em cancelar, anular ou botar no fundo da gaveta. Quem não gostar, vai ter que engolir: vascaínos botafoguenses, resendenses e até nos, tricolores, todos torcedores de alguns dos melhores times deste campeonato que termina no próximo domingo. Somente um plebiscito contrariaria a lei.

Não diz se será feriado, mas conhecendo a galera (e aí me incluo)... e se cair numa quinta ou numa sexta... ou numa segunda ou numa terça... Inté!

Mas péraí: como o dia 15 de novembro já é feriado nacional e se este dia 15 cair numa terça, aí o dia 17 cai numa quinta... Uau! Qui legal! Dá pra se fazer um estudo antecipado bem pormenorizado sobre o aproveitamento total dessa semana, longe das obrigações trabalhistas! Afinal, trabalha-se tanto para o pogreço do Brasil! Uma folguinha assim...

Com essa penada, nosso governador, que devia estar passando por uma crise de barriga desgraçada no momento da assinatura do decreto, cercado por um monte de bicos de luzes da diretoria barriguda do Flamengo, tendo às suas costas mais umas cinco toneladas de eminentes torcedores também barrigudos, o povão aguardando ansioso do lado de fora do Palácio das Laranjeiras, pessoal de tudo quanto é TV correndo pra lá e pra cá pra registrar o evento, conseguiu transformar o que sempre foi um dia comum e corriqueiro em mais uma data de lamentações para os integrantes da chamada maior torcida brasileira.

Esse também é o Dia de Santo Alfeu. Dia da Penitência, também. Amém!

Pergunte pra qualquer flamenguista se ele sabe quem foi Santo Alfeu e você terá como resposta: “- Ô meu, aqui pôcê, ó!”, acompanhada erradamente daquele gesto de boas-vindas onde as pontas dos dedos polegar e indicador se unem para formar um círculo e que os americanos dão seqüência com um sorridente “- Ok, mai bói!"

Foi bom essa data ter caído junto com o Dia da Penitência, que é do que os flamenguistas estão acostumados: mais um dia de choro e lamentações, entre tantos os que eles têm durante todo o ano. Se fosse num outro dia, poderiam estranhar.

E o diabo é que o assinador dessa instituição causuística abriu a porteira para o plesidente de língua plesa também instituir u dia dus curintiânus, só que a caneta du homi joga tinta pru Brasil inteiro. Será uma data de caráter nacional. É mole? E se ele fizer isso, até o Chavinho, o Eguinho e o Fidelzinho deverão vir pro rega-bofe nacional, com toda certeza, vestidos com a camisa do Corinthians!

Se o decreto do Serginho tivesse instituído o Dia do Fluminense, tudo bem, sem quaisquer motivos para reclamações. Afinal, nós, tricolores, estamos acostumados com mesuras dessa natureza e elas fazem parte do nosso dia-a-dia, em virtude do nosso passado, glorioso e triunfante, e do nosso presente, firme e confiante. Pois quem se atreve a dizer que desconhece a fama do nosso time, que é considerado como um dos ícones do futebol brasileiro e mundial, em cujos campos nossas equipes sempre tiveram atuações inesquecíveis e incomparáveis, para gáudio e glória do futebol nacional ? E os nossos Títulos? E a nossa Sala de Troféus? Fala a verdade e seja sincero pelo menos uma vez na vida, ôh meu: qual é o clube, no muuuuundo, que tem uma sala de troféus maior do que a do Fluminense?

Caso o governador assim o fizesse, eu sugeriria que nomeasse um Escolhedor Oficial do Estado do Rio de Janeiro para definir, de um modo justificado, a data para um ato de tal magnitude – pois se trata do Fluminense – e não ir simplesmente balbuciando "- Vamu assinanu essa bosta du decrets du Framengu ki adipois a genti vê!".

Prontifico-me, desde já, que se fosse nomeado como esse Escolhedor Oficial do Estado do Rio de Janeiro para definir o dia que passará a ser a efeméride maior do nosso estado, sugeriria o dia 4 de julho, não por ser o dia do meu aniversário, mas por ser o dia do fuzuê nacional dos americanos (Se a segunda data lembrar a primeira, será uma mera lembrança, morou?), atualmente os reis do pedaço. E também porque é o dia de Santa Maria Goretti, São Domingos e Santo Isaias, todos os três realmente trabalhadores e milagreiros e com suas figurinhas guardadas em carteiras pelo mundo todo. Num é ua coiza divina i maraviliosa prum dia só?

Sai da minha cachola, neste momento, uma pergunta que diz respeito ao que estou escrevendo:

- Porque escrevo tanto sobre o Fluminense, sendo que abri esta crônica apontando para o Flamengo, que deveria monopolizar a minha atenção na sua feitura?

É muito simples de responder:

Porque os times do Flamengo, ao longo da sua longa, tortuosa e triste história, tremem, via de regra, na hora do “- Tamu xeganu lá, si Deus quizé! Eu, di minha parti, vou dá tudo de si pro meu time ganhá!”, e sempre derramam o leite do pires na hora do pegapacapá. É um almoxarifado com as suas prateleiras permanentemente abarrotadas de derrotas, frustrações e tristezas que os seus torcedores carregam por todas as suas vidas, tendo, como único consolo, apenas a felicidade de engrossar a procissão dos que entram direto no paraíso, visto que em suas vidas terrenas sempre foram sofredores, gente de quem se diz que tem preferência depois que bate as botas.

A começar pelas suas cores, preta e vermelha. E o diabo é que tem que ser essas cores horrorosas mesmo. Escolheram, tá escolhido! Vão chorar no caxa-prego! Peçam pro governador baixar outro decreto mudando-as. Mas não implorem por algo com um grená, um verde ou um branco. – Óia só ki maravilia otra veizzz, num é mezzz? - Podem escolher um roxo e todas as variações de cinza. Verde bosta (mostarda) pode, em todo caso, assim como violeta, ameixa e lavanda!

Esqueçam a cor preta, que significa N-A-D-A, a negação de tudo, do frio, da luz, da alegria, do débito do cartão de crédito, daquele empréstimo que você fez pro seu cunhado há cinco ano e o safado sempre enrolando você. E a cor vermelha, querem saber o seu significado? De verdade? Não são capazes de fazer as suas próprias definições? Querem saber de mim, mesmo? Então, lá vai:

- É a cor do capeta, com seu rabão, seus chifres e aquela frescura de bengala chamada de tridente, que mais parece o palhaço da corte.

Já os times e as cores do Fluminense são tudo o que possa representar de inverso ao que foi dito sobre o Flamento.

Aviso aos meus leitores que ao redigir esta crônica, fí-lo com o intuito de paparicar o meu filho Gu, único desgoelado na minha família de tricolores, e aos meus amigos que teimam de joelhos postados sobre milho pela cartilha do Flamengo. Os meus homenageados poderão ficar desorientados com o que escrevi aqui mas, tenho a convicção de que dirão que ganharam o dia vendo o escudo pavoroso do seu time esmerdeando a página do meu brog, ainda mais que eles continuam meio entorpecidos depois da conquista do campeonato estadual em março do ano passado.

Também, puta merda, em cima do coitadinho do Madureira!

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Post scriptum: Esta crônica foi publicada originalmente em meu outro blog Ó pa qui, ó..., em 13.03.2007, sendo novamente reproduzida aqui, revista, atualizada e sofrendo uns transplantes vernaculares, como um desacato amigável e silencioso aos amigos flamenguistas que não estão me deixando ficar em paz no meu boteco, até nos momentos quando estou no ápice da minha concentração para ganhar nos jogos de tranca contra a marrecada que me enfrenta lá.

E esses amigos estão numa exaltação tão desvairada nesta semana que, honestamente, dá vontade de sumir do mapa e só voltar na segunda-feira, e tudo por causa da participação do time deles em mais uma final, desta vez contra o Botafogo, cuja torcida também está um saco de igual tamanho, e a torcida flamenguista, principalmente, há de concordar comigo.

Tudo bem que eles estão na final para berrar e espernear no Maracanã durante os 90 minutos de jogo no próximo domingo, na cadência das duas torcidas alternando-se em momentos de tristeza ou de alegria, o que não deveria estar acontecendo. Porque quem deveria estar jogando contra o Botafogo era o Fluminense, porque deu aquele olé no Flamengo, num histórico 4 x 1, mostrando ter um time muitíssimo superior ao dele.

E também por culpa do Vasco que num ataque de histeria coletiva, cheia de frescura e de um desvario fiodaputa, PERDEU DE VIRADA pro Flamengo aquele jogo de domingo passado por 2 x 1, assassinando as esperanças do meu até então querido Fluminense. Tem ispricação?

Chamem o capeta porque só de réiva vou torcer pro Flamengo, com o que me vingarei de um nazarento de um botafoguense que disse que o time tricolor não tinha aquele futebol que propalava ter. Cêis vão vê no próximo campeonato! Nossa vingança será marígrina!

I bibida prus músicus!

3 comentários:

NICE PINHEIRO disse...

Sou Flamengo e Salgueirense! Vermelho e Preto, Vermelho e Branco! Uma vez Flamengo, sempre Flamengo! Ganhando ou perdendo! Mas é sempre assim. Os flamenguistas e os anti-flamenguistas...Fazer o que?
Flamengo sempre eu hei de ser! Ganhando de virada ou perdendo de goleada....Uma vez Flamengo,Flamengo até morrer!
Saudações rubro-negras!
bjs

Norival R. Duarte disse...

Isso mesmo, Nice!

O que eu quero também é farrear, e futebol, todos sabem, é uma fonte inesgotável de brincadeiras, faladas ou escritas.

E eu vou torcer pelo Flamengo no domingo, de verdade!

Meu tricolor me decepcionou! Rompi com ele por uns tempos, não quero saber dele, vou desprezá-lo e ele que vá pra caxa-pregos!

Abraços.

Anônimo disse...

Obrigado por Blog intiresny