domingo, 24 de fevereiro de 2008

Futebol, by Millôr

Com essa chuvinha enrus-tida e teimosa desta manhã de domingo, JB já lido, família de cá lá no Hhio, visitando o outro fio, o Ni, a cadela Croá com banho já tomado, porque hoje é domingo, sem opções de algum bom programa na TV, cerveja no ponto e a garrafa da marvada aqui do lado, o Hollywood azul em estoque para até amanhã à tarde, pouca coisa mais me resta a fazer hoje no plano material do que ficar junto deste meu amigo PC e dar umas remadas pela web pra encontrar sei lá o quê.

E já na minha primeira tarrafada nesse lago, encontrei a crônica do Millôr que dá título a esta postagem e que reproduzo abaixo, e a que ele chamou simplesmente de Futebol, que, como não poderia deixar de ser, constitui-se em mais uma pérola da lavra desse notável brasileiro que, ao longo de toda a minha vida, pelo que posso me recordar, a povoou de incontáveis alegrias, e do qual absorvi boa parte do meu jeito de enxergar e interpretar as coisas, de uma maneira fora dos padrões costumeiros, como, por exemplo, transformar um drama em uma comédia, tal como é induzido dentro da perspectiva encenada numa comédia italiana.

Disse acima que estava sem opções de algum programa bom na TV, mas isso não corresponde à verdade, pois logo mais teremos Flamengo e Botafogo no Maracanã, partida que está na mira dos meus filhos, já que, entre outros motivos, é o que os levou a irem praquelas bandas conflagradas.

Com respeito a esse jogo, lembro da minha confissão na mensagem postada ontem, aqui mesmo, onde eu - tricolor inconsolado perante a derrota humilhante pelo monte de estrume do Vasco sobre nós, na virada de cagada de 4 x 1 no domingo passado - estarei torcendo pela primeira vez na minha vida pelo Flamengo. Vou lá pro boteco na hora do jogo, vou agüentar a gozação dos meus amigos flamenguistas, que vão querer que eu vista uma camisa rubro-negra, o que não farei de jeito nenhum, os botafoguenses vão me chamar de bicha transviada e vou tomar um monte de cachaça. E as razões que me levarão a torcer hoje pelo Flamengo é, primeiramente, justo por causa desses últimos torcedores, os alvi-negros, pelos motivos que descrevi na minha crônica e, segundamente, pra fazer uma média com meu filho Gu, que reza pela CSPF (Cartilha dos Sofrimentos Próprios do Flamenguistas, edição revista, ainda incompleta), e torce, como todo flamenguista fanático, para que o seu time derrote de vez hoje esse cruel e teimoso adversário, seu perene carrasco, nem que seja por 1 x 0, sem dó nem piedade, e acabe com o que os dois times quebrem o que já está se tornando uma tradição entre eles há cinco anos, parecendo até compadrio: empate no final do jogo e decisão por pênaltis.

Ficando, então, com uma esquisita expectativa para esse jogo, vou ler mais uma vêz a crônica do Millôr que prometi postar e que recomendo aos meus amigos para fazerem o mesmo, lembrando que ela foi escrita em dezembro pp e a estou copiando letra por letra. Leiamo-la ela, por fim, todos nós, nazarentos!
Futebol

• E já que o futebol é, como todos sabem, o ópio do povo, e, como poucos percebem, o narcotráfico da mídia, é impossível não falar dele, de vez em quando. De vez em quanto.

• Pois o futebol fortalece o caráter, sobretudo a quem não o tem.

• O futebol tem origens remotas e populares, mas foi implantado é pelos grã-finos ingleses. No Brasil, trazido pelos marinheiros do navio "Criméia", também só triunfou quando nossa upper-crust começou a jogá-lo. Com camisa de seda, écharpes coloridas na cintura, até gravatas. Logo o futebol voltou naturalmente ao povo, pela própria facilidade do jogo ¬ bastavam uma bola e um terreno baldio (ainda existem?). Seduzidos pela visível possibilidade de ascensão social e econômica, centenas de brasileiros pobres se mostraram craques extraordinários, dominando mundialmente o esporte na segunda metade do século XX. Socialismo é acesso.

• Alguém aí ainda sabe quem foi Coelho Netto, o pequeninho escritor "acadêmico" que, no início do século (o outro, o XX), disputando cadeira na Academia Brasileira de Letras com o "nobre" Graça Aranha, gritava, no ombro dos colegas, seu slogan de campanha: "Sou o último dos helenos!"?

Torcedor do Fluminense, morando ali perto da sede do clube (onde mais tarde moraria toda a família de Nelson Rodrigues), era pai de João Coelho Netto, o Preguinho, atacante imortal do glorioso tricolor. Preguinho foi o maior atleta do seu tempo, campeão, além do futebol, de pólo aquático, basquete, voleibol, saltos ornamentais, atletismo, natação, remo e... hóquei sobre patins!

Tudo amador.

Pois nós, do Flu, somos assim. Enquanto o torcedor do Flamengo se orgulha de ser "Flamengo doente", nós fazemos questão de provar que somos fluminenses saudáveis.

E aperte o cinto, Romário: Preguinho marcou 187 gous.

Nessa época!

• Aí, como sói (sói, Millôr, é isso mesmo?), vieram cartolas, bicheiros, políticos, nacionalismos, ganâncias sem fim (no que vestem os craques, no que bebem, no que fumam, nas campanhas políticas e até no uso das próprias mães), osteopatas, banheiras hidrostáticas, paparicos suspeitos. E a coisa degringolou. Deu no que deu e, sobretudo, no que não deu. O futebol estagnou, presa de táticas estranhas à realidade, à beleza do jogo, técnicos projetando verdadeiras engenharias de trânsito no campo, até a geometria exotérica tipo quadrado mágico, pra marcar (não marcar) um gol. Paradoxalmente, enquanto Vôlei e Basquete se modernizavam, aumentavam a emoção das disputas e seu público, a Fifa, desde que surgiu, em 1904, só fez duas modificações nas regras do jogo. Uma com relação ao impedimento.

• Antes que eu me esqueça: existe coisa mais idiota do que uma regra chamada IMPEDIMENTO?

• Mas sempre sobrou a glória criativa do bestialógico filosófico: "Tanto na minha vida futebolística quanto na minha vida de ser humano..." Nunes (atacante do Flamengo).
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Em tempo: Essa frase do Nunes está incluída num post meu também publicado aqui, batizado de Frases ditas por jogadores de futebol.

I bibida prus músicus! I cantemu tudu juntu: - Frameeeengu! Frameeeengu! Sua glóóóória é lutáááá...

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