sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Notas do site Canjicas

Canjicas é um site cujo titular é ou era o Dr. Porfírio Caetano das Neves.


Existem locais que a gente encontra quando navega pela Internet que atiçam de certa forma a nossa curiosidade, transformando o que seria uma rápida visita em uma verdadeira expedição exploratória.




Refiro-me àqueles sites e blogs que descobrimos e que não conseguimos deixar de explorá-los por um bom tempo quando do nosso atracamento neles, chegando até aos limites em que a nossa procura e interesse sejam recompensados por achados insuspeitados e imprevisíveis, com a realização do encontro de coisas e fatos que preenchem ou complementam buracos negros dos nossos conhecimentos.

É o que se deu comigo ao encontrar em setembro do ano passado o site Canjicas, um dos muitos incluídos num grupo de blogueiros que se reúnem em uma tribo virtual chamada de Wunderblogs, e acreditem, não sosseguei até navegar por ele todo, tal a beleza de seus textos, compostos de crônicas e comentários escritos de forma às vezes soberba, no sentido de magnífica, outras num tom coloquial, aqui nos dando a impressão de estarmos conversando frente a frente com o autor, outras, finalmente, utilizando uma linguagem humorística que poucos, mas muito poucos mesmo, conseguem se expressar da mesma forma. O seu titular é o Dr. Porfírio Caetano das Neves que, ao que tudo indica, encerrou as atividades do seu site
em agosto de 2006, o que seria uma pena ou, desgraça maior, faleceu, morreu, o que se constituiria numa perda irreparável.

Avento essa hipótese por que naveguei rapidamente por alguns dos vinte e poucos blogs e sites do
Wunderblogs , todos do mesmo naipe do Dr. Porfírio, e não encontrei uma referência sequer sobre o desaparecimento dele e da paralisação do seu site. E eu tenho a mania, que se confunde com uma baita birra mesmo, de ler tudo quando é comentário. Comigo não escapa um, já o disse aqui algumas vezes. O que ele postou até fevereiro de 2006 permanece lá, uma coletânea maravilhosa de crônicas do dia-a-dia, críticas políticas e literárias mordazes, a explicação do inusitado que passa batido por uma visão comum, como uma coisa simples, mas que se transforma em algo realmente interessante e maravilhoso sob a sua visão microscópica, que enxerga o que ao simples observador é negado.

Eu, cá com meu blog, vou passar a jogar a minha tarrafa no lago dele e passar a reproduzir aqui o que acho interessante do seu site. Pra mim será um trabalho gratificante e longo pois tudo lá é interessante, daí... Espero que ele, esteja onde estiver, não se aborreça comigo e aprove essa minha decisão que sempre será acompanhada dos devidos e mais do que merecidos créditos, como é de meu hábito.

Se alguém tiver alguma notícia dele, peço, encarecidamente, que me comunique.

Abaixo, algumas pérolas que capturei nesse site. Boto toda a minha fé de que será do agrado de todos!

Aqui, a introdução de uma crítica literária:


“Quarta-feira, 27 de fevereiro de 2006

Eros uma vez...

Por curiosidade resolvi comprar o livro “Triângulo no ponto”, de autoria de S.Exa. o Min. do STF Eros Grau. Pra quem não conhece (ignorante!), o ministro é professor titular da Universidade de São Paulo, foi indicado para a mais alta corte do país pelo Presidente Lula e o “Triângulo” é seu primeiro romance. Vocês sabem que sou um reles barbeiro com uma quedinha pela literatura e que por isso mesmo, como diria o saudoso cel. Ponciano de Azeredo Furtado, não sou homem de intromitências em assuntos de alta questionação, talqualmente a crítica literária.”

O resto tá lá e é imperdível!

Algumas pinceladas feitas ao acaso no baú dele:

- Eu respeitaria mais o Gianotti e o Comparato se, por exemplo, eles fossem flagrados numa suruba com 12 anãs acrobatas.

- As opiniões dos intelectuais brasileiros são exatamente as mesmas dos pedreiros brasileiros, só que com um vocabulário mais rico.

PCN: - É verdade que você bebe muito?

FDR: - Olhe. Eu bebo pouco. Mas o pouco que eu bebo me transforma em outra pessoa, que bebe pra cacete.

PCN: - É verdade que você considera a Idade Média a melhor época da humanidade para se viver?

FDR: - Com certeza foi. Desde que, claro, você não pisasse num prego enferrujado ou pegasse gonorréia.

- Ah, sim. Há uma terceira lição: nunca votar em gente de língua plesa.

I bibida prus músicus!

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Manual prático para bebuns

Como agir quando se bebe demais e aparecem seguintes sintomas:

SINTOMA: Pés frios e úmidos.
CAUSA: Você está segurando o copo pelo lado errado.
SOLUÇÃO: Gire o copo até que a parte aberta esteja virada para cima.

SINTOMA: Pés quentes e úmidos.
CAUSA: Você fez xixi.
SOLUÇÃO: Vá se secar no banheiro mais próximo.

SINTOMA: A parede à sua frente está cheia de luzes.
CAUSA: Você caiu de costas no chão.
SOLUÇÃO: Coloque seu corpo a 90 graus do solo.

SINTOMA: O chão está embaçado.
CAUSA: Você está olhando para o chão através do fundo do seu copo vazio.
SOLUÇÃO: Compre outra cerveja ou similar.

SINTOMA: O chão está se movendo.
CAUSA: Você está sendo carregado ou arrastado.
SOLUÇÃO: Pergunte se estão o levando para outro bar.

SINTOMA: O local ficou completamente escuro.
CAUSA: O bar fechou.
SOLUÇÃO: Pergunte ao garçom o endereço de sua casa.

SINTOMA: O motorista do táxi é um elefante rosa.
CAUSA: Você bebeu muitíssimo.
SOLUÇÃO: Peça ao elefante que o leve para o hospital mais próximo.

SINTOMA: Você está olhando um espelho que se move como água.
CAUSA: Você está para vomitar em uma privada.
SOLUÇÃO: Enfie o dedo na garganta

SINTOMA: As pessoas falam produzindo um misterioso eco.
CAUSA: Você está com a garrafa de cerveja na orelha.
SOLUÇÃO: Deixe de ser palhaço.

SINTOMA: A danceteria se move muito e a música é muito repetitiva.
CAUSA: Você está em uma ambulância.
SOLUÇÃO: Não se mova! Possível coma alcoólico.

SINTOMA: A fortíssima luz da danceteria está cegando seus olhos.
CAUSA: Você está na rua e já é dia.
SOLUÇÃO: Tente encontrar o caminho de volta para casa.

SINTOMA: Seu amigo não liga para o que você fala.
CAUSA: Você está falando com uma caixa de correios.
SOLUÇÃO: Procure seu amigo para que ele o leve para casa.

SINTOMA: Seu amigo não para de falar repetidamente as mesmas palavras .
CAUSA: Você está falando com o cachorro do vizinho.
SOLUÇÃO: Peça a ele pra lhe dizer onde é a sua casa.

Brigado, Divina Scarpim! I bibida prus músicus!

Manias de Pobre

Ganhei a matéria deste post de um amigo meu que é supervisor regional de marketing de prognósticos esportivos, popularmente chamado pela forma simplificada de apontador de jogos do bicho, e que tem a sua honrada e distinta banca no meu botequim. Não sei se é pra chorar ou pra rir, mas a achei pelo menos esclarecedora para os estudos antropossociológicos do futuro. Então, lá vai:

- Pegar todos os restos de sabonetes e juntar para fazer um só.

- Passar o miolo do pão no resto do pote de margarina.

- Comprar no supermercado material de segunda (aquele que já vem picadinho) pra feijoada do domingo e ficar procurando pedaços de carne-seca no meio da bagulhada, quase toda composta só de toucinho salgado, naquela enorme bandeja que fica perto da seção do sal Cisne e de carnes salgadas.

- Por água no envelope de suco para aproveitar o pozinho que fica grudado dentro dele.

- Por água no resto da lata de molho de tomate, tapar com a mão e dar umas chacoalhadas pra tirar tudo dela.

- Colocar água na embalagem do xampu pra aproveitar o resto e assim render mais.

- Encher a geladeira de garrafas pet de 2 litros cheios de água.

- Encher a porta e as laterais da geladeira de calendários de farmácias e de padarias.

- Dizer que perdeu tudo numa enchente ou deslizamento de barranco quando antes dizia que não tinha nada.

- Ir a Aparecida do Norte e tirar uma foto num camelô de rua que tem lá e que tem um aviãozinho vermelho pintado num painel de Eucatex azul onde só aparecem a cara e uma mão do sujeito dando tchauzinho.

- Pedir pro cara que lhe vende frango assado nos domingos em que sua mulher não fizer feijoada para lhe dar um saquinho de pescoços e pés que se transformarão na “merenda” da semana.

- Guardar os ossos do frango assado comido no domingo para engrossar o caldo da sopa da segunda-feira.

- Guardar chiclete mascado na geladeira pra reaproveitamento posterior.

- Usar camiseta de político.

- Esquentar a ponta da bic para ver se ela volta a funcionar.

- Lamber a tampa metálica do iogurte e do requeijão.

- Usar os copos de requeijão vazios como louça fina para dar água pras visitas.

- Colocar biquíni e tomar sol na laje ou atrás da casa.

- Ficar balançando lâmpada queimada para ver se ela volta a funcionar.

- Comprar carro novo e não tirar os selos do pára-brisas e o plástico dos bancos só pra dizer que é novo.

- Amarrar cachorro com fio de luz.

- Emendar aquela havaiana lascada.

- Levar para casa o resto do refrigerante que sobrou na latinha da ida à pizzaria.

- Levar as rebarbas da pizza e dizer que é pro cachorrinho.

- Usar o plástico da embalagem de arroz, feijão, etc pra encapar os livros ou cadernos da escolas dos filhos.

- Fazer chapinha no cabelo com ferro de passar roupas.

- Colocar outra imagem ao invés de foto no orkut.

- Não perder o Tela-Quente quando é anunciado que o filme é inédito.

- Vestir a camisa do time favorito quando ele ganha e ficar com ela uns quinze dias.

- Ter o TITANIC como o melhor filme que já viu na sua vida.

- Ter lasanha como comida favorita.
- Levar um pratinho com bolo do aniversário…“- É pro Clyeidyson, que não pôde vir!

- Dar os parabéns ao aniversariante e dizer “- Oh! Depois eu compro uma lembrancinha pra você!”

- Colocar pregador de roupas nas embalagens de mantimentos abertas.

- Comprar Coopertone e colocar no frasco do O Boticário.

- Pedir pro cobrador do ônibus pro filhinhos passarem por baixo da roleta.

- Guardar as caixinhas de pasta de dente e esperar por alguma promoção.

- Guardar refrigerante com colher pendurada na boca para não perder o gás.

- Ficar discutindo com os amigos quantas barbas dá para fazer com uma lâmina.

- Amarrar perna de óculos com arame.

- Guardar o palito de dentes usado para nova utilização.

- Tirar a poeira do sapato com a meia que irá usar.

- Subir na laje pra ficar mexendo a antena e ficar gritando de lá: “- I aê, tá bom agora?”.

- E a clássica, aquele “Bom Brill” pendurado na antena da Tv!

I bibida prus músicus!

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Fumo em quem fuma!

Como se não bastasse o péssimo hábito de fumar, nós, fumantes, ainda temos de saber onde comprar os nossos cigarros, sob o risco de comprar produtos falsificados, feitos com matérias primas das mais duvidosas procedências, aumentando significativamente os prejuízos para a nossa saúde e daqueles que não fumam mas que estão numa proximidade de 50 metros em relação a nós.

Os produtos falsificados são perfeitos nas suas indumentárias: no cigarro em si, com o filtro e o tubo de papel, e nas embalagens do maço e do pacote. É perda de tempo procurar por sinais nas embalagens que denunciem a sua irregularidade. O belzebu está nos fumos de que são feitos.

São inexistentes nesses excrementos vendidos como cigarros o aroma, o sabor residual e aquele bouquet revelador de retrogostos persistentes, porém sutis, que enevoam as papilas junto com os pensamentos de lembranças agradáveis.

A gente pode puxar a fumaça de forma diferente, mais comprimida, mais vagarosamente, mas não adianta! Não são usados fumos jovens, mais frescos, que dão suavidade e nos brindam no frescor das tragadas. São, ao contrário dos verdadeiros, encorpados com capim e bosta de boi, que também não deixa de ser capim, permanecendo longe de se igualarem a um cigarro feito com um fumo brut, curto e duro, ou, então, com um fumo duro e macio, como o que eu fumo e que, tal como vinho de nobre qualidade, é aveludado e escorregadio.

Até recentemente esses cigarros falsificados eram distribuídos meio na surdina e eram vendidos por preços inferiores aos daqueles aos quais imitavam, sendo adquiridos por pessoas de renda mais apertada e conquistando, certamente, um grande mercado.

Agora, não! Distribuem-no à luz do dia, de forma escancarada e acintosa, e muitos proprietários de bares (principalmente) que se mantiveram até então longe dessa falcatrua, abandonaram a fidelidade de e a seus fregueses e aderiram a ela – Costume desconhecido dos hábitos dos brasileiros! - de forma enganosa, camuflada, fajuta e traiçoeira, passando a nos empurrar goela, ops!, traquéia abaixo essas porcarias.

Então, amigos fumantes, sejam mais espertos, por que já somos suficientes tolos fumando. De minha parte, já faz algum tempo que só compro cigarros em pacotes, em padarias tradicionais. São 3 ou 4 pacotes em cada compra. Do Hollywod. Do azul. Aquele que dá câncer só do tipo F no pulmão, derruba os dentes, causa trombose e posterior amputação das pernas (Começa com uma, que a gente quebra o galho com uma muleta!), entretanto não causa impotência sequiçual.

E, como diz o Millôr Fernandes, "before some day the cow goes to the swamp".

I bibida prus músicus!

Post scriptum: Esta crônica foi matéria de uma postagem em 21.05.2007 no meu 1º blog O pa qui, ó... e continua lá!

Dias atrás, descobri a maneira de identificar facilmente esses desgraçados de cigarros falsos: não precisa nem tirar a película transparente (papel celofane) do maço de cigarros.

Basta dar uma raspadinha com a unha no selo do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados), que deve apresentar uma leve aspereza, conseqüência do tratamento de segurança que o papel do selo sofre. Se for assim, pode comprar: trata-se de material genuíno. Se for liso, que nem bunda de criança, não compre: você estará segurando um maço de cigarros falsos.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Meu tipo inesquecível 2

“Assistir o jogo” ou “assistir ao jogo”?

No penúltimo post publicado aqui, fiquei por uns momentos todo enrolado sobre quais das duas expressões acima utilizar no texto que redigia. Afinal, qual era a correta? Não titubeei por muito tempo! Em cerca de apenas alguns segundos, me veio à memória que tenho nas colunas à direita dos meus dois blogs um elemento a quem denominei de “Quebra-galhos”, onde se encontra um link chamado de "100 Erros mais comuns em português", a quem recorri e onde, após uma simples clicada e um coçadinha na cabeça (rodinha central) do mouse encontrei as respostas às minhas atrozes, ferozes e cruéis dúvidas.

Pode parecer idiotice minha, porém o fato é que posso não me assemelhar a nenhum burro, como à primeira dedução muitos haverão de pensar, pelo simples fato de frequentemente me esquecer de regrinhas simples como essa e que me obrigam a buscar fora das minhas lembranças aquilo que um dia foi um conhecimento ativo, funcional e rápido como a velocidade da luz. E o simples fato de eu ter colocado nos meus blogs tais muletas linguísticas para conseguir compor um texto entendível, acrescido do também simples fato de eu ter me lembrado disso e de saber procurá-las, demonstra, no mínimo, um lampejo de inteligência que por mais breve que seja contraria sumariamente a equiparação entre o burro e eu.

E por falar em lembranças, sou levado neste momento a uma época não tão distante no passado e refaço imagens como o desenrolar de um filme, onde essa regrinha e outras tantas como ela, que não seguram só a mim nas suas armadilhas, me foi apresentada lá no ano de 1957, quando iniciei os meus estudos ginasianos no Colégio Dom Bosco, tendo como professor – e ele o seria durante todos os quatro anos do curso ginasial – o saudoso Cel. Jayme Dantas, ainda ativo naquela época na AMAN - Academia Militar das Agulhas Negras, e que mais tarde se transformaria em advogado e mestre em direito, sendo considerado um dos mais ilustres da nossa região em ambas as atividades.

Era um professor rigorosíssimo na constatação de que se o que ele transmitiu aos alunos havia sido mais ou menos assimilado, ou aprendido, por parodoxal que isso possa parecer a quem não se submeteu a seus ensinamentos da nossa língua. Tinha uma cadernetinha que sempre a puxava da pasta e todos sabiam que ali residia a sua opinião e a tática de ataque a cada aluno em momento adequado. Tremíamos quando ela a puxava e fazia alguma anotação no final da aula. Sabíamos que um de nós haveria de acertar contas por alguma regra desrespeitada, naquele dia do tal momento adequado. Não fazia questão de notas altas, pelo contrário, esses alunos dançavam fininho na prova oral final, porque tinham que mostrar que realmente mereciam aquelas notas. Eu, mais burro do que hoje, ficava sempre nos meus 4 ou 5 pontos, na velha escala de 0 a 10, e a prova oral para alunos dessa faixa de notas era mais um bate-papo com o aluno e que nada tinha a ver com o seu aprendizado no decorrer do ano letivo que se encerrava.

Recordo-me de alguns colegas que se encaixavam na primeira categoria, como o Niquinho, o Edinho, o Edson, o Maurício, o Zé (Era Zé, mesmo!), o João Luiz e outras sumidades da nossa turma que eram questionados severamente nessa ocasião. Foram todos uns CDF de primeiríssima linha, e não é à toa que hoje, talvez afora seus amigos mais chegados e os próprios parentes ainda os chamem por esses nomes, Para estranhos que necessitem informações sobre eles, porém, têm que se referir ao Dr Nicolau Moisés Jr., ao Dr. Edi-Nobá de Souza Balieiro, ao Dr. Edson de Almeida Balieiro, ao Dr. Maurício Abranches, ao Dr. José Maciel de Almeida e ao Dr. João Luiz Gomes, todos empresários bem sucedidos ainda labutando arduamente na região nas suas carreiras de médicos, com exceção do Dr. João Luiz Gomes que preferiu as carreiras de advogado e professor.

O Cel. e Professor Jayme Dantas foi escolhido por todos como o patrono da nossa turma, numa decisão onde a unanimidade prevaleceu soberana entre nós, seus eternos admiradores.

Para mim, além de me proporcionar uma sólida base de conhecimentos da Língua Portuguesa, apesar das verdadeiras barbaridades que impinjo a ela nas minhas elucubrações expressadas nas formas escrita e falada, resta-me a felicidade de haver tido um professor que, longe da severidade do mestre que aparentava ser, sempre se mostrou um amigo confiável naquilo que nos transmitia, como se a cada nova aula, a cada regrinha ensinada, estivesse nos mostrando um mundo novo que talvez jamais imaginássemos ser possível de um dia vislumbrarmos.

Por essas e por outras razões é que considero não poder deixar minha consciência permanecer afetada pelo que ele moldou em mim, sem nomeá-lo como uma das pessoas mais queridas que já passaram pela minha vida e que se transformou, para sempre, num dos meus tipos inesquecíveis.

Na foto abaixo, guardada com muito carinho no meu baú de recordações, temos uma tomada que mostra em primeiro plano o “batalhão” formado pelos “soldados” que compunham a nossa turma, todos que, igualmente como eu, se ajoelharam sobre a cartilha do Professor Jayme Dantas, tomada entre os anos de 1957 e 1960, não sei qual deles precisamente por falta de anotação, período onde se inseriram os quatro anos do curso ginasial que realizamos no Colégio Dom Bosco, aqui em Resende.

Foi num desfile do 7 de setembro, Dia da Independência, ou do 29 de setembro, dia da Emancipação do Município de Resende, originalmente chamada de Vila de Nossa Senhora da Conceição do Campo Alegre da Paraíba Nova. O local indica seguramente a passagem pela Rua Dr. Cunha Ferreira e, em continuação, essa marcha nos faria passar pela Praça Oliveira Botelho onde, bem em frente à Matriz, erguia-se o grandioso palanque das autoridades capitaneadas pelo prefeito que era, se não me falha a memória mais uma vez, ou o Dr. João Maurício de Macedo Costa ou o Dr. Geraldo da Cunha Rodrigues, ambos de saudosa memória.

Posso identificar ainda alguns dos meus colegas nessa foto, como o Maurício (1º plano, à esquerda), o Tirripa (Nelson Reeve, atrás do Maurício), e seguindo a seqüência, o Zé (não o Dr. Maciel), o Marino Rosas, o José Francisco da Cunha (que foi o nosso orador na formatura), EU, e semi-escondido atrás de mim, o Alfredinho (Alfredo da Silva Duarte). Espalhados pelo resto do “batalhão”, identifico ainda o Édson (Dr. Édson Balieiro), o Toninho (Dr. Antonio Fernandes de Azevedo), o Raimundo (Dr. Raimundo A. Jorge), o Edinho (Dr. Edi-Nobá Balieiro) e o Reginaldo (Reginaldo B. Diniz).

Cito apenas esses porque trombo sempre com alguns deles pela aí... pela nossa Resende. Os outros se dispersaram por esse mundo afora e nunca mais me encontrei com nenhum deles. Mas permanecem vivos nas minhas lembranças, com as nossas brincadeiras de adolescentes e o tempo que passamos juntos estudando e procurando aprender regrinhas que, como a lembrada do post anterior, nos proporcionaram ser o que somos hoje.

I bibida prus músicus!

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Mais uma regrinha da bela flor do Lácio

Como fiquei enroscado sobre uma concordância gramatical do texto anterior, num lapso corriqueiro de memória que está se tornando crônico e galopante, publico a regrinha que regula um importante complemento de alguns verbos da nossa língua, não sem antes publicar também os versos do poema feitos em tributo a ela por Olavo Bilac, numa completa expiação pela minha deficiência mental confessada.

Língua Portuguesa

Última flor do Lácio, inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela...

Amote assim, desconhecida e obscura,
Tuba de alto clangor, lira singela,
Que tens o trom e o silvo da procela
E o arrolo da saudade e da ternura!

Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,

Em que da voz materna ouvi: "meu filho!"
E em que Camões chorou, no exílio amargo,
O gênio sem ventura e o amor sem brilho!

Então, lá vai a regrinha, a 11ª de um total de 100:

A 11ª - Vai assistir “o” jogo hoje. Assistir como presenciar exige “a”: Vai assistir ao jogo, à missa, à sessão. Outros verbos com “a”: A medida não agradou (desagradou) à população. / Eles obedeceram (desobedeceram) aos avisos. / Aspirava ao cargo de diretor. / Pagou ao amigo. / Respondeu à carta. / Sucedeu ao pai. / Visava aos estudantes.

As outras noventa e nove estão aqui, ó!

I bibida prus músicus!

Ôh, Zé! Só dá Flamengo nesse fluzuê?

Ano passado, apesar do empate no tempo regulamentar, o Flamengo terminou como campeão na disputa por pênaltis contra o mesmo Botafogo. Ontem, jogando com uma rara raça de se ver em suas disputas, virou o jogo, botou o Botafogo de quatro e... crau! Foi um 2 x 1 pra ninguém botar defeito, porque foi de virada e foi um jogo duro e polêmico, com os jogadores do Botafogo chiando um tempão, mas tendo que sossegar o rabo diante a decisão do juiz, ao qual as más línguas dizem que também deveria receber uma faixa de campeão.
Diego Tardelli (na foto aí do laldim babanu na taça), atacante do rubro-negro e introduzido no time no segundo tempo, numa derradeira jogada que parecia completamente despretenciosa, um pouco antes do último suspiro do cronômetro, quando a partida perigava ser novamente disputada na base dos pênaltis, mandou essa possibilidade que queria se repetir pela 6ª vez entre os dois contendores pros quintos dos infernos e marcou o gol da virada e da vitória aos 46 minutos.

Com isso, o Flamengo ontem se sagrou bi-campeão da Taça Guanabara, sendo este o seu 18º título nas refregas desse campeonato. Saudações tricolores!

Como eu havia dito em crônicas bem recentes neste meu brogui, aqui e aqui, assisti ao jogo ontem pela tv, pelos motivos nelas explicados, muito magoado porque o meu Fluminense não estava disputando mais essa final e porque dançou de odalisca contra o Vasco no seu último jogo.

Pois bem! Fui pro meu boteco e fiquei só urubuservanu num canto, tomanu umas Capelinhas, só na minha, fingindo que estava torcendo pelo Fla, mas o que eu queria mesmo era que o Botafogo levasse fumo, o que só poderia me levar a torcer pro Flamengo, querendo, ou não. Não devo, portanto, a bem da mais crua e verdadeira verdade, dizer que estava apenas fingindo torcer.

Havia umas 80 pessoas lá, sem brincadeira, misturadas entre torcedores dos dois times e um monte de bicos de luzes! Tudo correu normalmente, saí de lá incólume e devidamente turbinado pela quantidade de pinga que vi os outros bebendo. Papagaios! Como os caras bebem e como eles agüentam ficar de pé depois de umas dez dozes de pinga! E olha que a dose é caprichada e servida em copo americano. Nesse ponto, devemos louvar os donos do bar que, apesar de conhecidos munhequentos, dadas as suas origens lá pelos cafundó de algum grotão de Bulhões, não são necessariamente mesquinhos aos servirem cachaça aos seus clientes: colocam logo uns 80 ml em cada copo. E por apenas R$ 0,70 a dose. Com o andar modorrento da carruagem, já viram no que pode dar... Sai todo mundo de lá tropeçando nas próprias pernas!

I bibida prus músicus!

domingo, 24 de fevereiro de 2008

Futebol, by Millôr

Com essa chuvinha enrus-tida e teimosa desta manhã de domingo, JB já lido, família de cá lá no Hhio, visitando o outro fio, o Ni, a cadela Croá com banho já tomado, porque hoje é domingo, sem opções de algum bom programa na TV, cerveja no ponto e a garrafa da marvada aqui do lado, o Hollywood azul em estoque para até amanhã à tarde, pouca coisa mais me resta a fazer hoje no plano material do que ficar junto deste meu amigo PC e dar umas remadas pela web pra encontrar sei lá o quê.

E já na minha primeira tarrafada nesse lago, encontrei a crônica do Millôr que dá título a esta postagem e que reproduzo abaixo, e a que ele chamou simplesmente de Futebol, que, como não poderia deixar de ser, constitui-se em mais uma pérola da lavra desse notável brasileiro que, ao longo de toda a minha vida, pelo que posso me recordar, a povoou de incontáveis alegrias, e do qual absorvi boa parte do meu jeito de enxergar e interpretar as coisas, de uma maneira fora dos padrões costumeiros, como, por exemplo, transformar um drama em uma comédia, tal como é induzido dentro da perspectiva encenada numa comédia italiana.

Disse acima que estava sem opções de algum programa bom na TV, mas isso não corresponde à verdade, pois logo mais teremos Flamengo e Botafogo no Maracanã, partida que está na mira dos meus filhos, já que, entre outros motivos, é o que os levou a irem praquelas bandas conflagradas.

Com respeito a esse jogo, lembro da minha confissão na mensagem postada ontem, aqui mesmo, onde eu - tricolor inconsolado perante a derrota humilhante pelo monte de estrume do Vasco sobre nós, na virada de cagada de 4 x 1 no domingo passado - estarei torcendo pela primeira vez na minha vida pelo Flamengo. Vou lá pro boteco na hora do jogo, vou agüentar a gozação dos meus amigos flamenguistas, que vão querer que eu vista uma camisa rubro-negra, o que não farei de jeito nenhum, os botafoguenses vão me chamar de bicha transviada e vou tomar um monte de cachaça. E as razões que me levarão a torcer hoje pelo Flamengo é, primeiramente, justo por causa desses últimos torcedores, os alvi-negros, pelos motivos que descrevi na minha crônica e, segundamente, pra fazer uma média com meu filho Gu, que reza pela CSPF (Cartilha dos Sofrimentos Próprios do Flamenguistas, edição revista, ainda incompleta), e torce, como todo flamenguista fanático, para que o seu time derrote de vez hoje esse cruel e teimoso adversário, seu perene carrasco, nem que seja por 1 x 0, sem dó nem piedade, e acabe com o que os dois times quebrem o que já está se tornando uma tradição entre eles há cinco anos, parecendo até compadrio: empate no final do jogo e decisão por pênaltis.

Ficando, então, com uma esquisita expectativa para esse jogo, vou ler mais uma vêz a crônica do Millôr que prometi postar e que recomendo aos meus amigos para fazerem o mesmo, lembrando que ela foi escrita em dezembro pp e a estou copiando letra por letra. Leiamo-la ela, por fim, todos nós, nazarentos!
Futebol

• E já que o futebol é, como todos sabem, o ópio do povo, e, como poucos percebem, o narcotráfico da mídia, é impossível não falar dele, de vez em quando. De vez em quanto.

• Pois o futebol fortalece o caráter, sobretudo a quem não o tem.

• O futebol tem origens remotas e populares, mas foi implantado é pelos grã-finos ingleses. No Brasil, trazido pelos marinheiros do navio "Criméia", também só triunfou quando nossa upper-crust começou a jogá-lo. Com camisa de seda, écharpes coloridas na cintura, até gravatas. Logo o futebol voltou naturalmente ao povo, pela própria facilidade do jogo ¬ bastavam uma bola e um terreno baldio (ainda existem?). Seduzidos pela visível possibilidade de ascensão social e econômica, centenas de brasileiros pobres se mostraram craques extraordinários, dominando mundialmente o esporte na segunda metade do século XX. Socialismo é acesso.

• Alguém aí ainda sabe quem foi Coelho Netto, o pequeninho escritor "acadêmico" que, no início do século (o outro, o XX), disputando cadeira na Academia Brasileira de Letras com o "nobre" Graça Aranha, gritava, no ombro dos colegas, seu slogan de campanha: "Sou o último dos helenos!"?

Torcedor do Fluminense, morando ali perto da sede do clube (onde mais tarde moraria toda a família de Nelson Rodrigues), era pai de João Coelho Netto, o Preguinho, atacante imortal do glorioso tricolor. Preguinho foi o maior atleta do seu tempo, campeão, além do futebol, de pólo aquático, basquete, voleibol, saltos ornamentais, atletismo, natação, remo e... hóquei sobre patins!

Tudo amador.

Pois nós, do Flu, somos assim. Enquanto o torcedor do Flamengo se orgulha de ser "Flamengo doente", nós fazemos questão de provar que somos fluminenses saudáveis.

E aperte o cinto, Romário: Preguinho marcou 187 gous.

Nessa época!

• Aí, como sói (sói, Millôr, é isso mesmo?), vieram cartolas, bicheiros, políticos, nacionalismos, ganâncias sem fim (no que vestem os craques, no que bebem, no que fumam, nas campanhas políticas e até no uso das próprias mães), osteopatas, banheiras hidrostáticas, paparicos suspeitos. E a coisa degringolou. Deu no que deu e, sobretudo, no que não deu. O futebol estagnou, presa de táticas estranhas à realidade, à beleza do jogo, técnicos projetando verdadeiras engenharias de trânsito no campo, até a geometria exotérica tipo quadrado mágico, pra marcar (não marcar) um gol. Paradoxalmente, enquanto Vôlei e Basquete se modernizavam, aumentavam a emoção das disputas e seu público, a Fifa, desde que surgiu, em 1904, só fez duas modificações nas regras do jogo. Uma com relação ao impedimento.

• Antes que eu me esqueça: existe coisa mais idiota do que uma regra chamada IMPEDIMENTO?

• Mas sempre sobrou a glória criativa do bestialógico filosófico: "Tanto na minha vida futebolística quanto na minha vida de ser humano..." Nunes (atacante do Flamengo).
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Em tempo: Essa frase do Nunes está incluída num post meu também publicado aqui, batizado de Frases ditas por jogadores de futebol.

I bibida prus músicus! I cantemu tudu juntu: - Frameeeengu! Frameeeengu! Sua glóóóória é lutáááá...

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Aê, nazarento! Quebrou a jura e colou no BBB-8?

Eu sabia, Zé Mané, que uma hora você ia se revelar! E desta vez me disseram que anteontem, à noite, lá no Gospe Grosso, no meio de uma cervejada com os seus colegas de firma, você era o que mais falava e gesticulava, parecia exaltado, revoltado e desopilando um desabafo cheio de mágoa pela eliminação do Fernando no último paredão.

Tudo bem que você veja o programa todos os dias na sua casa. Ela é sua, assim como a televisão. Mas você não precisava ter jurado de pés juntos antes desse programa começar, que não iria ver um segundo dele, e ainda disse com cara de macho, batendo pés, dando murros nas próprias mãos, fazendo uma cara de babaca e fingindo estar aplicando uma força desgraçada nessa auto-flagelação, que considerava esse programa como o cocô do cavalo do bandido ou os pregos que furam os pneus da sua moto. Mas o pior de tudo foi a sua confissão, ao final, com cara de noivo desapropriado:

- “Puxa vida, fiquei inconsolado, pois foi uma puta de uma sacanagem! Eliminaram o Fernando, um cara tão legal e que era o meu preferido pra chegar à final Mas que ele foi macho, ah!, isso foi, sim! Tão dizenu que ele quase chorou, mas isso é mentiiiiiira, pois ele conseguiu segurar a barra até o fim, superando aqueles momentos tão terríííííííveis das despedidas. Foi tão triste! Eu fiquei em estado de choque e não consegui me controlar, e então, chorei! Não foi propriamente um choro, mas escorreu algumas lágrimas de meus olhos... E o que é que tem? Desde quando homem não pode chorar?”

Quer saber porque estou sabendo de alguns fatos sobre o BBB-8? É muito simples: basta abrir o Explorer pra entrar no meu servidor ao querer navegar pela web que já começam a aparecer notícias daquele bando de vagabundos, inundando, mesmo que eu não o queira, a minha visão de cenas eivadas de imundícies e fajutices. Eu estou mantendo a minha palavra, respeitando meus princípios próprios, inamovíveis e serenos, de não ver nem ler bosta nenhuma sobre esse programa, do qual não gosto, não gosto e não gosto!

Agora, você, Zé Mané, você não tem palavra, você quebrou a jura feita na frente de uma porrada de amigos... Vá enganar um pé de bananeira, Zé Mané!

I bibida prus músicus!

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Filosofia profunda

Manhêêêê! Ôh, Manhêêêê! Escuta aqui, óh! Acho que vou virar filósofo, e depois fazer uma pós, especilizando-me em comédia. A Senhora deixa?

- I bibida prus músicus!

Dez problemas da Arte de Conversar

1. Ouça com atenção

Muitas vezes nos concentramos tanto no que tencionamos dizer que não ouvimos realmente o que a outra pessoa está dizendo. Se você ouvir atentamente os outros, eles prestarão mais atenção quando chegar a sua vez de falar.

2. Fale sobre coisas que interessam à outra pessoa

Diz um psicólogo: “O encanto da conversa consiste menos em demonstrar o próprio espírito do que em abrir caminho para que o outro sujeito demonstre o seu”.

Quando se estimula o outro a falar sobre seus assuntos prediletos, nunca há razão para preocupar-se com silêncios constrangedores e, geralmente, fica-se tão absorvido que não há tempo para acanhamento... que é o maior obstáculo para uma conversa espontânea

3. Evite minúcias desinteressantes

“O segredo de ser cansativo consiste em contar tudo”, advertiu Voltaire. Todos nós conhecemos a pessoa que faz digressões e nunca omite um fato desnecessário. “Não sei bem se foi numa sexta ou num sábado. Mas deve ter sido por volta de dez e meia, porque eu acabava de sair da casa de meu irmão, do outro lado do parque, e depois...”. Muito antes de o narrador chegar ao clímax de sua história já estamos cansados.

4. Evite expressões cediças

Não deixe que o apontem como “uma pessoa de poucas palavras, que as usa continuamente”.

Algumas mulheres arrulham a palavra “maravilhoso” em quase todas as frases.

Outros adeptos do cediço repetem a todo instante: “É o que eu digo!”, “Esta é a maior!”, “Só mesmo você!”, “Está entendendo?”, “Entendeu?”, “Né?”.

Ainda entre algumas mulheres, a moda é dizer "chiquézi-mo", "elegantézimo", "bacanézimo" e outros "ézimos" mais, enquanto quase todos, homens e mulheres, acham que o supra-sumo da cultura é dizer “Com certeza!” para tudo com o que concordem ou para com o que querem que concordem, esquecendo-se, ou evitando - nesse caso, por puro e obscuro modismo mesmo ou, como o papagaio que só repete o que ouve, de forma instintiva, maquinalmente - substituir, de vez em quando, essa expressão pelos seus correspondentes "Cer-to!", "Correto!", "Positivo!", "Seguro!", também pelos seus correspondentes advérbios, ou um simples “Sim!”, o que embelezaria sobremaneira a qualidade da sua conversa, saindo do lugar comum da mesmice, já que em meia dúzia de palavras pronunciadas duas são “Com certeza!”, com certeza!

Outras duas corruptelas mais modernas da palavra ou expressão são “a nível de” e “tipo...“, posto que a expressão correta é “ao nível do” ou “ao nível da”, ou "do nível do" ou "do nível da", e ela só pode ser utilizada em relação às águas dos mares e dos rios, do topo do prédio, do 3° andar, do cume ou de algum lugar da montanha ou morro, da altura de cruzeiro de uma aeronave, balão ou coisa semelhante, da profundidade de um submarino. Deve ser sempre relacionada com altura ou profundidade. Mas jamais “a nível de chefia”, “a nível de propaganda bem bolada” e a nível de outras mais.

Já o emprego da palavra “tipo” seguida de um “esclarecimento”, como “tipo cem reais”, “tipo dez horas” e mais “tipos...” é uma demonstração tipo Mary Shelley, criadora do monstro Frankenstein, pois quem o utiliza é um esmerado criador de tipos monstros lingüísticos.

Fuja desses exemplos estereotipados! E não faça citações de si mesmo! São poucas as pessoas tão espirituosas como Bernard Shaw, que podia gracejar: “ - Cito-me freqüentemente. Isso dá sabor à minha conversa!”.

5. Fale com precisão

Pare um instante para disciplinar suas palavras antes de falar; não mergulhe de cabeça numa frase, esperando que acabe dando certo. Evite pular de um tópico para outro; a conversa é mais interessante quando se prolonga um assunto por muito tempo para apreciá-lo do ponto de vista de quem dá e de quem recebe.

Muitos de nós somos culpados de tornar difícil a compreensão de nossa conversa com cacoetes e hesitações. Olhe de frente a pessoa com quem estiver conversando, mas olhe diretamente em seus olhos e não ponha a mão diante da boca para falar indistintamente. Não deve ser necessário que lhe peçam para repetir o que disse.

6. Faça as perguntas adequadas

Os bons entrevistadores – repórteres, advogados, psiquiatras etc – sabem que uma pergunta bem concebida e bem formulada ajuda a outra pessoa a se expandir. Indica um interesse sincero por ela e pelas suas opiniões.

Perguntas convencionais, no gênero de “Como vão as coisas?”, ou “O que há de novo?” não têm sentido. Por outro lado, perguntas do tipo “Como foi que o senhor começou o seu negócio?”, ou “Se tivesse de começar a vida de novo, escolheria esta cidade para morar?” indicam interesse sincero. E frases discretas como “”Não acha?”, ou “Qual é a sua opinião?” muitas vezes mantém a outra pessoa falando e evitam que nós falemos demais!

7. Aprenda a discordar sem ser desagradável

Muitas vezes o que mais importa não é o que se diz, mas a maneira de dizê-lo. Benjamim Franklin costumava observar diplomaticamente:

“Uma discussão amistosa muitas vezes enriquece uma conversa, mas não comece a discutir com uma declaração indiscriminada como “Detesto advogados. São todos uns chicanistas”. Tal observação dogmática fará com que todos os grupos tomem partido com uma violência que não permite conversação educada.

É importantíssimo não contradizer sumariamente pessoa alguma, mesmo quando se tenha certeza de que ela está errada. Use de sutileza!

8. Evite interromper os outros

Se você por vezes se vir obrigado a cortar uma conversa, sua interrupção parecerá menos descortês com uma frase amável como “João, você me permite acrescentar uma coisa ao que acaba de dizer?”. Diga-se de passagem que a pessoa interrompida ouvirá com mais atenção se você usar o nome dela.

Se você próprio for interrompido, nunca insista em voltar depois ao mesmo assunto. Procure interessar-se pela nova conversa. Se as pessoas quiserem que você volte ao que estava discutindo, elas mesmas o dirão.

9. Procure ser tolerante e diplomático

Todos nós conversamos às vezes com pessoas que nos irritam ou nos aborrecem. Nesse caso, procure concentrar-se no assunto em discussão. Afinal de contas, os fatos são impessoais. Se você procurar honestamente assumir uma atitude generosa e tolerante, aprenderá a conversar muito melhor.

Sua conversa será mais rica se você aprender a elogiar as pessoas – desde que os elogios sejam sinceros! Pode-se elogiar ao mesmo tempo que se exprime apreciação.

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Post Scriptum: Este artigo, salvo pequena atualização realizada por mim, se constitui numa das aulas de oratória do Curso de Comunicações Verbais do Instituto Oswaldo Melantonio, São Paulo/SP, que, privilegiado, cursei, em 1976, e que reorientou a minha vida numa guinada magnífica de 180 graus, para melhor.

I bibida prus músicus!

Dia do Flamengo

Era só o que faltava: por decreto assinado pelo governador Sérgio Cabral, o dia 17 de Novembro foi instituído como o Dia do Flamengo, revogadas as disposições em contrário. Com essas revogadas, danou-se tudo! Nem pensar em cancelar, anular ou botar no fundo da gaveta. Quem não gostar, vai ter que engolir: vascaínos botafoguenses, resendenses e até nos, tricolores, todos torcedores de alguns dos melhores times deste campeonato que termina no próximo domingo. Somente um plebiscito contrariaria a lei.

Não diz se será feriado, mas conhecendo a galera (e aí me incluo)... e se cair numa quinta ou numa sexta... ou numa segunda ou numa terça... Inté!

Mas péraí: como o dia 15 de novembro já é feriado nacional e se este dia 15 cair numa terça, aí o dia 17 cai numa quinta... Uau! Qui legal! Dá pra se fazer um estudo antecipado bem pormenorizado sobre o aproveitamento total dessa semana, longe das obrigações trabalhistas! Afinal, trabalha-se tanto para o pogreço do Brasil! Uma folguinha assim...

Com essa penada, nosso governador, que devia estar passando por uma crise de barriga desgraçada no momento da assinatura do decreto, cercado por um monte de bicos de luzes da diretoria barriguda do Flamengo, tendo às suas costas mais umas cinco toneladas de eminentes torcedores também barrigudos, o povão aguardando ansioso do lado de fora do Palácio das Laranjeiras, pessoal de tudo quanto é TV correndo pra lá e pra cá pra registrar o evento, conseguiu transformar o que sempre foi um dia comum e corriqueiro em mais uma data de lamentações para os integrantes da chamada maior torcida brasileira.

Esse também é o Dia de Santo Alfeu. Dia da Penitência, também. Amém!

Pergunte pra qualquer flamenguista se ele sabe quem foi Santo Alfeu e você terá como resposta: “- Ô meu, aqui pôcê, ó!”, acompanhada erradamente daquele gesto de boas-vindas onde as pontas dos dedos polegar e indicador se unem para formar um círculo e que os americanos dão seqüência com um sorridente “- Ok, mai bói!"

Foi bom essa data ter caído junto com o Dia da Penitência, que é do que os flamenguistas estão acostumados: mais um dia de choro e lamentações, entre tantos os que eles têm durante todo o ano. Se fosse num outro dia, poderiam estranhar.

E o diabo é que o assinador dessa instituição causuística abriu a porteira para o plesidente de língua plesa também instituir u dia dus curintiânus, só que a caneta du homi joga tinta pru Brasil inteiro. Será uma data de caráter nacional. É mole? E se ele fizer isso, até o Chavinho, o Eguinho e o Fidelzinho deverão vir pro rega-bofe nacional, com toda certeza, vestidos com a camisa do Corinthians!

Se o decreto do Serginho tivesse instituído o Dia do Fluminense, tudo bem, sem quaisquer motivos para reclamações. Afinal, nós, tricolores, estamos acostumados com mesuras dessa natureza e elas fazem parte do nosso dia-a-dia, em virtude do nosso passado, glorioso e triunfante, e do nosso presente, firme e confiante. Pois quem se atreve a dizer que desconhece a fama do nosso time, que é considerado como um dos ícones do futebol brasileiro e mundial, em cujos campos nossas equipes sempre tiveram atuações inesquecíveis e incomparáveis, para gáudio e glória do futebol nacional ? E os nossos Títulos? E a nossa Sala de Troféus? Fala a verdade e seja sincero pelo menos uma vez na vida, ôh meu: qual é o clube, no muuuuundo, que tem uma sala de troféus maior do que a do Fluminense?

Caso o governador assim o fizesse, eu sugeriria que nomeasse um Escolhedor Oficial do Estado do Rio de Janeiro para definir, de um modo justificado, a data para um ato de tal magnitude – pois se trata do Fluminense – e não ir simplesmente balbuciando "- Vamu assinanu essa bosta du decrets du Framengu ki adipois a genti vê!".

Prontifico-me, desde já, que se fosse nomeado como esse Escolhedor Oficial do Estado do Rio de Janeiro para definir o dia que passará a ser a efeméride maior do nosso estado, sugeriria o dia 4 de julho, não por ser o dia do meu aniversário, mas por ser o dia do fuzuê nacional dos americanos (Se a segunda data lembrar a primeira, será uma mera lembrança, morou?), atualmente os reis do pedaço. E também porque é o dia de Santa Maria Goretti, São Domingos e Santo Isaias, todos os três realmente trabalhadores e milagreiros e com suas figurinhas guardadas em carteiras pelo mundo todo. Num é ua coiza divina i maraviliosa prum dia só?

Sai da minha cachola, neste momento, uma pergunta que diz respeito ao que estou escrevendo:

- Porque escrevo tanto sobre o Fluminense, sendo que abri esta crônica apontando para o Flamengo, que deveria monopolizar a minha atenção na sua feitura?

É muito simples de responder:

Porque os times do Flamengo, ao longo da sua longa, tortuosa e triste história, tremem, via de regra, na hora do “- Tamu xeganu lá, si Deus quizé! Eu, di minha parti, vou dá tudo de si pro meu time ganhá!”, e sempre derramam o leite do pires na hora do pegapacapá. É um almoxarifado com as suas prateleiras permanentemente abarrotadas de derrotas, frustrações e tristezas que os seus torcedores carregam por todas as suas vidas, tendo, como único consolo, apenas a felicidade de engrossar a procissão dos que entram direto no paraíso, visto que em suas vidas terrenas sempre foram sofredores, gente de quem se diz que tem preferência depois que bate as botas.

A começar pelas suas cores, preta e vermelha. E o diabo é que tem que ser essas cores horrorosas mesmo. Escolheram, tá escolhido! Vão chorar no caxa-prego! Peçam pro governador baixar outro decreto mudando-as. Mas não implorem por algo com um grená, um verde ou um branco. – Óia só ki maravilia otra veizzz, num é mezzz? - Podem escolher um roxo e todas as variações de cinza. Verde bosta (mostarda) pode, em todo caso, assim como violeta, ameixa e lavanda!

Esqueçam a cor preta, que significa N-A-D-A, a negação de tudo, do frio, da luz, da alegria, do débito do cartão de crédito, daquele empréstimo que você fez pro seu cunhado há cinco ano e o safado sempre enrolando você. E a cor vermelha, querem saber o seu significado? De verdade? Não são capazes de fazer as suas próprias definições? Querem saber de mim, mesmo? Então, lá vai:

- É a cor do capeta, com seu rabão, seus chifres e aquela frescura de bengala chamada de tridente, que mais parece o palhaço da corte.

Já os times e as cores do Fluminense são tudo o que possa representar de inverso ao que foi dito sobre o Flamento.

Aviso aos meus leitores que ao redigir esta crônica, fí-lo com o intuito de paparicar o meu filho Gu, único desgoelado na minha família de tricolores, e aos meus amigos que teimam de joelhos postados sobre milho pela cartilha do Flamengo. Os meus homenageados poderão ficar desorientados com o que escrevi aqui mas, tenho a convicção de que dirão que ganharam o dia vendo o escudo pavoroso do seu time esmerdeando a página do meu brog, ainda mais que eles continuam meio entorpecidos depois da conquista do campeonato estadual em março do ano passado.

Também, puta merda, em cima do coitadinho do Madureira!

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Post scriptum: Esta crônica foi publicada originalmente em meu outro blog Ó pa qui, ó..., em 13.03.2007, sendo novamente reproduzida aqui, revista, atualizada e sofrendo uns transplantes vernaculares, como um desacato amigável e silencioso aos amigos flamenguistas que não estão me deixando ficar em paz no meu boteco, até nos momentos quando estou no ápice da minha concentração para ganhar nos jogos de tranca contra a marrecada que me enfrenta lá.

E esses amigos estão numa exaltação tão desvairada nesta semana que, honestamente, dá vontade de sumir do mapa e só voltar na segunda-feira, e tudo por causa da participação do time deles em mais uma final, desta vez contra o Botafogo, cuja torcida também está um saco de igual tamanho, e a torcida flamenguista, principalmente, há de concordar comigo.

Tudo bem que eles estão na final para berrar e espernear no Maracanã durante os 90 minutos de jogo no próximo domingo, na cadência das duas torcidas alternando-se em momentos de tristeza ou de alegria, o que não deveria estar acontecendo. Porque quem deveria estar jogando contra o Botafogo era o Fluminense, porque deu aquele olé no Flamengo, num histórico 4 x 1, mostrando ter um time muitíssimo superior ao dele.

E também por culpa do Vasco que num ataque de histeria coletiva, cheia de frescura e de um desvario fiodaputa, PERDEU DE VIRADA pro Flamengo aquele jogo de domingo passado por 2 x 1, assassinando as esperanças do meu até então querido Fluminense. Tem ispricação?

Chamem o capeta porque só de réiva vou torcer pro Flamengo, com o que me vingarei de um nazarento de um botafoguense que disse que o time tricolor não tinha aquele futebol que propalava ter. Cêis vão vê no próximo campeonato! Nossa vingança será marígrina!

I bibida prus músicus!

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Chateau Mouton Rothschild

Consta, que certa noite, muitos anos atrás, um homem entrou com a namorada no restaurante Lucas Carton, em Paris, e pediu uma garrafa de Mouton Rothschild, safra de 1928.

O sommelier, em vez de trazer a garrafa, para mostrar ao cliente, traz o decanter de cristal cheio de vinho e, depois de uma mesura, serve um pouco no cálice para o cliente provar. O cliente, lentamente, leva o cálice ao nariz para sentir os aromas, fecha os olhos e cheira o vinho.

Inesperadamente, franze a testa e com expressão muito irritada pousa o copo na mesa, comentando ríspidamente:

-Isso aqui não é um Mouton de 1928!

O sommelier assegura-lhe que é. O cliente insiste que não é! Estabelece-se uma discussão e, rápidamente, cerca de 20 pessoas rodeiam a mesa, incluindo o chef de cuisine e o gerente do hotel que tentam convencer o intransigente consumidor de que o vinho é mesmo um Mouton de 1928.

De repente, alguém resolve perguntar-lhe como sabe, com tanta certeza, que aquele vinho não é um Mouton de 1928.

- O meu nome é Phillippe de Rothschild, diz o cliente, modestamente, e sou eu que faço o Mouton Rothschild!

Consternação geral.

O sommelier, então de cabeça baixa, dá um passo à frente, tosse, pigarreia, bagas de suor escorrem da testa e, por fim, admite que serviu na garrafa de decantação um Clerc Milon de 1928, mas explica seus motivos:

- Desculpe, mas não consegui suportar a idéia de servir a nossa última garrafa de Mouton 1928. De qualquer forma, a diferença é irrelevante. Afinal o senhor também é proprietário dos vinhedos de Clerc Milon, que ficam na mesma aldeia do Mouton. O solo é o mesmo, a vindima é feita na mesma época, a poda é a mesma, e o esmagamento das uvas se faz na mesma ocasião, o mosto resultante vai para barris absolutamente idênticos. Ambos os vinhos são engarrafados ao mesmo tempo. Pode-se afirmar que os vinhos são iguais, apenas com uma pequeníssima diferença geográfica.

Rothschild, então, com a discrição que sempre foi a sua marca, puxa o sommelier pelo braço e murmura-lhe ao ouvido:

- Quando voltar para casa esta noite, peça à sua namorada para se despir completamente. Escolha duas regiões muito próximas do corpo dela e faça um teste de olfato. Você perceberá a diferença que pode haver numa pequeníssima diferença geográfica!

- I bibida prus músicus!

- Esta piada também copiei do site do meu amigo Fernando Stickel. Não é uma pérola? Então, que tal deixar um comentário sobre ela? Vamos! Não hesite, não!

Eita, velhinha pererequenta!

Com toda esta nova tecnologia recente sobre a fertilidade, uma senhora de 70 anos foi capaz de dar à luz um menino. Quando teve alta hospitalar, foi para casa, e seus familiares e amigos vieram visitá-la.

“Podemos ver o novo bebê?” - Alguém perguntou.

“Ainda não!” - Disse a mãe - “Vou fazer um café e poderemos conversar um pouco antes disso.”

Trinta minutos se passaram e um outro perguntou:

“Podemos ver o bebê agora?”

“Não, ainda não!” - Disse a mãe.

Depois de mais alguns minutos, eles perguntaram de novo.

“Podemos ver o bebê agora?

“Não, ainda não!” respondeu a mãe.

Já meio impacientes, eles perguntaram:

“Bem,… então quando poderemos ver o bebê?”

“QUANDO ELE CHORAR!” - Ela disse a eles.

“QUANDO ELE CHORAR?”

“É!” – Disse a mãe.

“E por que temos que esperar ele chorar?”

“PORQUE EU ME ESQUECI DE ONDE O COLOQUEI…”

- I bibida prus músicus!

- Esta piada também foi copiada do site do meu amigo Fernando Stickel.

Ópaquió! Seu nazarentu, fiadazunha!

Devido ao fato da nossa região ser abundantemente habitada por um número considerável de mineiros e seus descendentes, e onde mineiro abunda a vida é mais legal, superando, seguramente, até o número de nativos, é que resolvi publicar neste espaço algumas informações de vital importância para o relacionamento com eles, que possuem um dialeto próprio da nossa língua e cujo modo de falar deixa o interlocutor algumas vezes enrolado.

São eles responsáveis em grande parte pelo extraordinário progresso em todos os campos da atividade humana de quase todos os municípios do Vale do Paraíba, região localizada entre as Serras do Mar e da Mantiqueira, dentro dos Estados de São Paulo e do Rio de Janeiro, desde Jacareí, passando por São José dos Campos e descendo até a sua foz em São João da Barra, alííí, logo depois de Campos, com Resende no meio dessa caminhada.

Em nossa região, vêm principalmente das bandas do sul do Estado de Minas Gerais, atravessando os contrafortes da Serra da Mantiqueira e se espalhando feito praga por tudo quando é lado, transformando-se como o ar que respiramos: estão em tudo quanto é lugar!

É como resultado dessa infiltração bem-vinda e da sua permanência entre nós - que se estende, via de regra, pelos restos de suas vidas, pois adotam sem reservas a terra que os acolheu e ainda os acolhe sempre carinhosamente - que aqui também constroem suas famílias, quando não já vêm todos juntos, o que é o normal, ampliando suas linhagens familiares, misturando-se geneticamente com outros mineiros e com os próprios papagoiabas. É uma tarefa muito difícil de se encontrar por estas redondezas uma família que não tenha um pouco de sangue mineiro correndo nas veias limpas ou entupidas de alguns de seus integrantes.

São, por natureza, alegres o tempo todo, têm duas pernas, dois braços, tronco e cabeça, igualzinho aos nativos, atenciosos e profundamente religiosos, assim como donos de uma conversa alegre que os identifica logo à primeira vista, ou à primeira ouvida ou entreouvida, mas de um jeito de falar que a princípio pode ser cômico e estranho e que é nada mais, nada menos do que um dialeto da Língua Portuguesa, o que os transformam em motivo folclórico de piadas, com a vantagem sempre permanecendo do lado deles, livrando-se sempre do pior e terminando invariavelmente com uma saída estratégica de banda.

Prestando, pois, uma singela homenagem a todos os meus amigos mineiros que aturam as minhas brincadeiras, também aos outros istranhu ou discunhecidu, à minha querida mãezinha que nasceu em Itanhandu, município integrante do chamado Circuito das Águas, de onde provêm águas minerais como a São Lourenço, a Caxambu e a Lambari, que nada ficam a dever às melhores águas do mundo, situado numa altitude de 886 m e apresentando uma temperatura média anual de 18,8 ºC (Óia só qui maravilha, sô!), é que resolvi incluir neste blog um pequeno Dicionário Minerês – Português com mais algumas observações lingüísticas pertinentes.

Trata-se, na realidade, da compilação de algumas palavras e expressões utilizadas pelos mineiros feita por algum maluco beleza, que já foram transformadas em sinais eletrônicos e passearam por toda a web, não sendo novidade, portanto, o que estou transmitindo. Quero, apenas e somente, guardá-la nos meus arquivos para - Quem sabe? – um dia consultá-la na pré-velhice da minha vida para defender arguma tese de doutoramento da nossa língua, o que também pode vir a ser o caso de argum outro interessado.

Encontrei-a no excelente site do Fernando Stickel, meu amigo e contumaz fornecedor de matérias para o meu blog, para o que sempre lhe peço a devida autorização e no que sempre sou brindado com sua generosa benevolência. Recomendo a todos uma visita ao seu site, que é de uma beleza diferente de muitos outros e marcante pelos assuntos escolhidos, incisivo nas suas opiniões, instrutivos umas vezes, outrs alegres e humorísticas, sem vulgaridades, porém.

Entonces, vamu qui vamu, qui mais tarde vai chuvê!

Dicionário Minerês - Português

Nota do compilador-assistente: A maioria das expressões aplica-se a todas as falas dos Minerin, porém aquelas cuja pronúncia se aproxima do carioquês são da região compreendida entre Belrzont (ver item Belrzont no dicionário) e a divisa com o estado do Hhio de Janeiro.

MINERIN: Típico habitante das Minas Gerais.

UAI: O correspondente ao UÉ dos paulista. Uai é uai, uai.

UAAAI UAAAI UAAAI UAAAI UAAAI: Sirene de ambulância mineira.

ÉMEZZZ?: Minerin querendo confirmação.

ÓIQUI!: Minerin tentando chamar a atenção pra alguma coisa.

ÓIQUIEU!: Olha eu aqui! Minerin tentando chamar a atenção para si.

ÓPAQUIÓ! Seu nazarento, fiadazunha!: Olha pra aqui, olha...! Seu nazarento, fiadaputa! (É também nome do meu outro blog, onde a barra é mais pesada, mas tem muita coisa legal lá. É só dar uma cutucadinha aqui para ir lá e conferir!).

TXII: O irmão do pai ou da mãe (mulher do txii é a txxiiiiaa).

PÃO DJI QUEJ: Alimento fundamental na mesa mineira, disputa com o TUTU a preferência dos minerin.

TUTU: Mistura de farinha de mandioca com feijão triturado e uns temperin lá da horta.

TREM: Palavra que nada tem a ver com transporte e que quer dizer qualquer coisa que o minerin quiser. Ex. Já lavô us trem? Eu comi uns trem. Vamo lá tomar uns trem? Nun vô visti ess trem. Vô ali na privada vazê um trem.

ONCÊVAI?: Onde você vai?

MAIS QUI BELEEEZZZ!: Expressão que exprime aprovação, quando gostou de alguma coisa.

NNN: Gerúndio do minerês. Ex. Brincannnu, corrennnu, innnu, vinnnu.

BELRZONT: Capital de Minas Gerais. FIADAZUNHA: fiadaputa.

PÓPÔPÓ’?: A esposa perguntando ao marido se pode por o pó (para fazer café).

PÓPÔPOQUIN!: Resposta afirmativa do marido, pão-duro como todos mineirin.

JIGIFORA: Cidade mineira próxima ao estado do Hhio de Janeiro, o que confunde a cabeça do minerin que não sabe se é minerin ou carioca.

CÔFÓFÔVÔ!: Conforme for eu vou.

ÓIAÍ!: Olha aí.

SÔ: Expressão indefinida que acompanha frases de exclamação.

TÓ!: Toma!

BÃO: Bom

DIMAIS DA CONTA: Muito (usada em frases como “Bom demais da conta,sô.”)

SUFÁ: É o mesmo que sofá em qualquer lugar do Brasil, é o mezzzzzzzz que TUMATE.

PASSEIO: O mesmo que carçada.

ONTI: O mesmo que ontem.

ANTONTI: Antes de ontem.

MINEIRÊS, procêis cunhecê: Falá de minerim é assim mezzz, estes são os 15 mandamentos da língua portuguesa dos minerin de Belzonte:

Usar sempre i no lugar de e: (Ex.: minino, ispecial, eu i ela, vistido).

Dizer ÉMEZZZ? quando quiser uma confirmação.

Se quiser chamar atenção diga simplesmente ÓIQUIÓ.

Se estiver com fome coma PÃO DJI QUEJJJ…

Na falta de vocabulário específico utilizar a palavra TREM que serve pra tudo, exceto como meio de transporte. Neste caso, é troço.

Se aprovar alguma coisa solte um sonoro MAIS QUI BELEEEZZZ!

Prá fazer café, primeiro pergunte PÓPÔPÓ? Achou pouco, ficou ralo? Pergunte: PÓPÔ MAPOQUIM DIPÓ?

Se você não sabe onde está e nem para onde vai, pergunte simplesmente: ONCOTÔ? PRONCOVÔ?

Se não estiver certo de comparecer, diga simplesmente CÔFÓFÔVÔ, que quer dizer: conforme for, eu vou.

PRONDÉQUIVÔ?: Para onde é que eu vou?

PUR INCRÍVIU QUI APAREÇA...: O verbo aparecer pros minerim não significa surgir, mas sim, parecer, ser semelhante a.

Iscrusive...: É essa é uma das mais utilizadas e significa inclusive.

POBREMA: Essa é do piru pra explicar. Acontece que os mineiros têm dificuldade de pronunciar os grupos consonantais “pl” e “bl”, como em problema, planta, platina, plebiscito, blaser, blasfêmia. Então trocam todos os “l” por “r”, e fim de papo. Mas não conseguem, os mais eruditos, explicar porque em “problema” eles assassinam o “r” da sílaba “pro”.

Issu tudu é brá-brá-brá!: Tão vennu! issu significa"Issu tudu e blá-blá-blá!"

Se o motivo da dúvida for algo que você tem que fazer, explique, “Vou fazer um NIGUCIM e volto logo”.

Ao procurar alguém que concorde com você, dispare um NUÉMEZZ?

Usar sempre duas negativas prá deixar claro que você não sabe do que está falando “NUM sei NÃO”.

Use sempre o diminutivo IMMM, tipo piquininimm, lugarzimm, bolimm, minerim, boiolimmm, viadimmm (no caso de cruzeirense).

Ao terminar uma frase, conclua com a palavra SÔ.

- I bibida prus músicus, sô!

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Eita, velhice excomunguenta!

Existe uma tendência quase natural entre blogueiros de uma mesma tribo, entendida como um grupo de amigos virtuais espalhados por uma região, um país, um continente, ou mesmo todo o planeta, que se comunicam de forma mais constante entre si em detrimento de outros amealhados em suas relações de “preferidos” e que, em determinado momento, são surpreendidos postando mensagens sobre um mesmo tema.

Disse tendência natural porque essa sintonia de pensamentos num curto espaço de tempo entre os membros de um mesmo grupo, escrevendo textos sobre um tema aparentemente único, ocasiona uma explosão de idéias diferentes textualmente, porque o tema é analisado sob diferentes perspectivas e, em relação a ele, cada um expõe seu ponto de vista pessoal, fruto de seus conhecimentos, da sua experiência, das suas expectativas, da sua própria situação do momento.

É o que está ocorrendo atualmente no Site Oficial de Resende, do qual sou colaborador, e onde recentemente foram postadas duas mensagens sobre o tema Velhice, ambas realizadas por Nice Pinheiro, jornalista, amiga e colega colaboradora do mesmo site.

Na primeira mensagem, ela reproduz texto de Gisela Rao, publicitária, jornalista e escritora, que nas palavras da sua crônica “Arte de envelhecer, o caramba!”, nos expõe, num tom quase coloquial, na solidão de uma noite em seu apartamento, os seus mais íntimos pensamentos sobre a sua idade e a uma velhice sobre a qual ela insiste em falar, estando, no entanto, jovem ainda, segundo as minhas contas. Recorda-se da descoberta dos primeiros fios de cabelo branco em seu corpo e explica “...porque quando começamos a achar que estamos ficando velhos temos mais medo ainda da escuridão. Não a escuridão com “e” minúsculo, mas a com “E” maiúsculo, grande e escancarado”.

Já a segunda crônica sai das mãos da própria Nice Pinheiro e ela a intitula de “Arte de envelhecer - Ou simplesmente amar a vida!”.

Também fala dos primeiros cabelos brancos, que ela adorou, e, em continuação, de todos os cabelos brancos, que ela continua adorando, fazendo questão de extravasar toda a sua alegria e vontade de viver e confessando que “...envelhecer está sendo maravilhoso!”, mote que praticamente domina a sua visão para o próprio futuro e que nos é mostrada na sua crônica. Mantém-se com os pés firmes e é capaz de topar uma contenda porque o que “caracteriza uma pessoa mentalmente jovem... é a alegria de viver, a capacidade de sonhar e realizar, a insistência em ser feliz e uma certa rebeldia contra valores e conceitos impostos pela sociedade e pela mídia”. Mas também não deixa de estar ciente de que o “corpo envelhece, não tem jeito. O cérebro começa a ficar mais lento e podem surgir algumas complicações”.

Então, como que não querendo nada, atropelado que fora pelas duas crônicas acima nas minhas ruminações sobre a minha excomunguenta de velhice e do alto dos meus 63 anos (Farei 64 no dia 4 de julho próximo, dia da Independência dos EUA. Fácil de guardar na memória, não? Eita, ferro!), lembrei-me de uma crônica sobre a velhice que me atingiu como um tiro no coração - parodiando o Zezé de Camargo - quando a li pela primeira vez e que até hoje permaneceu martelando na minha cabeça sempre que também olhava e olho para o monte de cabelos brancos da minha outrora cabeleira castanha de fios ondulados. E como o assunto ainda estava quente no site Oficial de Resende, resolvi publicá-la neste meu espaço, após gentilmente autorizado pela sua autora, uma das que fazem parte da minha honrada tribo e que foi uma das primeiras a me dar da sua água nas “Fontes de onde bebo”, expressão que utilizo para denominar os meus preferidos na web e que se encontram na homepage do meu blog.

Sua crônica marcou-me pela descrição da realidade crua, verdadeira e inquestionável sobre tudo o que se refere à velhice, sob um ângulo até então nunca analisado por mim e porque me mostrou que o quê é lamentável não é ficar velho, mas sim, perder a juventude!

Não importa quando a juventude cessará. Acontece, queiramos ou não, que ela poderá findar antes da velhice chegar. Se não for assim, a velhice poderá se constituir numa fase de enormes dificuldades, desalento, tristeza e amargura.

Aparentemente confrontando-se com as duas crônicas anteriores, esta também converge para pontos em comum com aquelas, quando mostra o ânimo da sua autora em se agarrar à vida, enquanto jovem, semelhante ao pensamento da Gisela Rao que espera que no dia seguinte "tudo parecerá melhor quando acordar e comer o seu iogurte de morango, zero por cento de gordura, com três amêndoas cravadas. Anti-oxidantes".

Também de forma paralela, navega com suas palavras como nas aspirações da Nice Pinheiro de "querer andar de moto com seus netos, apresentar a eles a bossa-nova, o chorinho, o jazz, o blues. Querer que seus netos conheçam Led Zepellim, Rolling Stones, Beatles, The Doors. E Fred Astaire, Gene Kelly, Ginger Rogers, Judy Garland".

É pra ler e ficar refletindo enquanto a juventude que possuímos o permitir, pois quando a velhice, mesmo, chegar, em algum ponto sem volta, nem da nossa juventude nos lembraremos mais.

Então, à crônica da minha amiga Divina de Jesus Scarpim.

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Desmistificando a Velhice

- Por Divina de Jesus Scarpim

Sou extremamente emputecida com essa mania que as pessoas têm de glorificar a velhice, é como se houvesse uma obrigação de achar que é algo bom, que tem alguma coisa de bonito na pele enrugada, nos cabelos brancos e na saúde frágil. Esse emputecimento não é nada novo, já me sentia assim aos 20, já ouvi muitas colegas de escola afirmarem que tinham o "sonho" de ficarem bem velhinhas e terem muitos netos. Sempre achei esse sonho muito do besta!

Não, não descobri a fonte da juventude. Só descobri, e faz bastante tempo, que a velhice é algo terrível, muito pior do que a pior das doenças, e que as pessoas inventaram uma historinha muito da fraquinha para tentar convencer e se convencer de que tem algo de bom nisso. As ditas "vantagens" são sempre aquelas coisas que existiam no adulto e que alguns demoram um pouco mais para perder, ou seja, o que se diz de bom da velhice é o que a velhice ainda não levou.

Os exemplos de velhos maravilhosos, e todos têm pelo menos um, são pessoas que foram maravilhosas quando adultas e que, durante algum tempo, conseguiram manter algumas dessas características. Geralmente as pessoas desses exemplos ou acabaram por perder essas características tão notáveis, ou morreram antes da deteriorização total.

E o tão propagado consolo de que "é natural" também me deixa pasma! Sei que a deterioração física demora mais ou menos tempo dependendo da pessoa, mas sei que ela só não acontece para quem morre antes e não acho isso justo. E daí que é inevitável? E daí que é o processo natural? E daí que não posso fazer nada além de escolher um dos dois caminhos? Só porque é natural tenho que achar lindo?

É ruim, é triste, é feio e não vejo por que tenho que fazer de conta que é tudo bonitinho. Não preciso achar que é bom só porque não posso evitar! Já que a única opção também não me atrai, então vou ficar mais e mais velha, até estar um caco e morrer, mas não vou fazer isso mentindo! Se tem que fazer eu faço, e da melhor maneira possível. Mas sob protesto! Sempre fui rebelde e não será depois de velha que vou deixar de ser!

Todos nós já vimos essa cena e cenas similares diversas vezes: Uma família chega a um restaurante. São duas crianças, dois adultos e uma senhora idosa com uma bengala e muita dificuldade de locomoção. A mulher jovem tem que ajudar a senhora idosa a entrar no restaurante, a chegar até a mesa, a sentar, a ler o cardápio... Eles passam algum tempo ali e toda a atenção que dão para a senhora é estarem periodicamente verificando se ela precisa de ajuda para alguma coisa, ela precisa de ajuda para tudo.

Eu me pergunto: Que tipo de vida terrível, cheia de maldades e das piores ações que um ser humano pode cometer, poderia com alguma justiça tornar justificável que uma pessoa receba da vida um castigo tão grande? Concluo que muito, muito poucas, e fico com raiva, uma tremenda raiva de saber que por melhor que a gente viva todos estamos sujeitos a esse horror! E juro! não entendo como é que alguém pode achar isso bom!

Dizem que vendo dessa forma não mentirosa eu vou sofrer. Pensar em geral equivale a sofrer e já estou meio acostumada com isso. Mesmo que quisesse não conseguiria ser diferente. E, respeitados ou não, os velhos são seres que estão se deteriorando em ritmo gradual e irreversível, isso é horrível e tudo o que dizem que existe de bom na velhice das duas uma: ou é algo que seria melhor ainda antes da velhice, ou é alguma coisa da fase adulta que AINDA não foi roubada pela velhice.

Às vezes acho que o que leva a isso é apenas o medo de assumir que nosso último destino é um horror sem comparação e também a necessidade de fazer de conta que uma coisa ruim é boa para poder suportar a vida e não cometer suicídio. Não acho que exista alguém que não tenha medo da velhice.

Todos falam da "velhice com qualidade", de se cuidar para ter uma "boa velhice", de manter a alegria e o pique para ser um "velho de bem com a vida"... Pois para mim esses falsos conceitos são sintomas de medo. Por terem muito medo da velhice, quando falam da própria, todos exaltam justamente aquilo que não é velhice. Só acreditaria que tem algo de bonito na velhice se alguém pudesse me mostrar que reumatismo é um charme, que descontrole do corpo é a última moda, que usar fraudão não tem nada de ruim, que a perda da memória faz um bem danado para o intelecto, que usar bengala ou andador é tão lindo quanto usar rimel e batom.

Mas ninguém diz: "Ai que lindo um corpinho todo cheio de artrite e reumatismo!", "Olha que gracinha esse andador!", "Puxa gente que legal, ganhei uma ruga novinha!", "Ah, que felicidade, meu colesterol está lá no alto!", "Não consigo mais me levantar sozinho da cadeira, não é bacana?", "Viram meu extrato bancário? Gastei todo meu dinheiro com remédios, tô tão feliz!"

Pois é, embora vejamos e saibamos que isso acontece com as pessoas o tempo todo, negamos até o fim que acontecerá com a gente. Se isso não é medo... Já vi uma pessoa afirmando que um familiar morreu de Alzheimer mas foi feliz até o fim e me pergunto: Quem tem essa doença, tão comum na chamada terceira idade, pode ser feliz? Talvez sim porque pelo que sei a pessoa vai perdendo a consciência totalmente. Pensar que perda total de memória, consciência, capacidade de movimento e de decisão podem ser associadas à felicidade é um caminho... Mas, como EU posso ser feliz se deixei de ser EU ?????

Amadurecimento, conhecimento, experiência... isso tudo é balela, só serve quando você ainda tem alguma coisa de adulto que a velhice não levou. Amadurecida é uma pessoa adulta e responsável. Velhice equivale mais à podridão. E quando falo isso não tenho nenhuma intenção de ofender os velhos, estou pensando em uma fruta. Nosso corpo começa a deteriorar por dentro e por fora da mesma forma que a fruta começa a apodrecer. É um processo. Conhecimento é algo que você, se adquirir ao longo da vida, vai ter bastante na fase adulta, mas é também algo que vai ser levado pela velhice quando sua mente começar a falhar. Experiência é algo que, em geral, só serve pra você mesmo e muitas vezes nem pra você serve mais, menos ainda na velhice quando você não pode usá-la para nada ou quando você esquecer que a teve.

Um exemplo bem bobo: Um casal constrói uma casa. Levam anos de trabalho, esforço, dedicação, sonhos. Uma experiência que, teoricamente, poderia servir para um filho. Pois bem, o filho cresce e compra um apartamento, nem ele nem a esposa têm a mínima intenção de construir uma casa. O casal, levado pelo destino, tem que mudar de estado e vender a casa que custou tanto e também compra um apartamento sem nenhuma intenção de construir qualquer casa no novo endereço. De que valeu toda essa experiência???

Construir a casa adiantou, é claro, afinal foi com a venda dela que compraram o apartamento. Mas a experiência adquirida com essa construção, tudo que aprenderam e que passaram com projeto, pedreiros, material, acabamento, etc. Tudo isso não serve para nada porque não vão construir outra, não vão corrigir os erros da primeira na próxima. Maturidade. De que serve a maturidade se quando você é maduro o suficiente para saber uma coisa, não tem energia ou futuro suficiente para realizá-la?

Tudo isso é besteira? Pode até ser, mas tudo que falam para convencer os velhinhos de que eles estão na "melhor idade" é MENTIRA! Muitos argumentam que você seguramente terá uma velhice ótima se “plantar” isso na juventude. Não é verdade, nem sempre se planta o que colheu. Tem muito filho da puta por aí que deveria estar vivendo um inferno e está numa boa enquanto pessoas excelentes amargam solidão e falta de tudo. Essa conversa de que cada um colhe o que plantou é outra mentira da grossa.

Se acontece de só na velhice alguém poder fazer alguma coisa que não pôde fazer na juventude, como uma aventuresca e linda viagem, isso não é em absoluto prova de vantagem da velhice, comprova apenas uma desvantagem que aquela pessoa teve na idade adulta. Certamente se tivesse conseguido fazer isso na fase adulta teria aproveitado ainda mais, sem precisar da humilhação fantasiada de exemplo de ser visto como um "animal raro" e tratado com carinho, condescendência e, certamente, preocupação de muitos que ficaram pensando sem dizer nada: "Será que a vovozinha vai mesmo agüentar ou vai estragar o passeio de todo mundo tendo um treco bem aqui?".

A beleza e a pele lisa, a saúde e a possibilidade de fazer planos para o futuro são muitíssimo mais importantes do que a experiência e do que qualquer conhecimento adquirido, principalmente porque na velhice esses conhecimentos costumam ganhar um cimento e não evoluir! Não sou chegada a essa coisa de tentar me enganar, e fico puta da vida por ver que praticamente todo mundo tem esse papo pronto de que a velhice é linda, a experiência vale muito mais do que a juventude, a velhice está apenas no espírito. Quando alguém vem com esse papo pra cima de mim fico achando que estão me tomando por uma imbecil com cérebro de ameba! E o que me deixa pasma é que tem gente que parece acreditar mesmo nessa baboseira toda!

Tudo que tem de bom na vida a velhice leva, inclusive a tão propagada experiência, a tão louvada maturidade! Você chega aos “enta” e vai perdendo gradativamente tudo, absolutamente tudo, inclusive você mesmo. Quando toda a sua experiência e maturidade se tornam vagos clarões em um cérebro quase sem memória, quando toda atividade física se torna um obstáculo praticamente ou totalmente intransponível, todo mundo, TODO MUNDO MESMO, acha que você tem mais é que morrer, que já está na hora de você se posicionar na mesa do velório e virar uma figura meio borrada nas fotos antigas. Se você, apesar das opiniões contrárias, insistir em ficar mais um ano ou dois, você vai provavelmente causar imensos transtornos para os outros, tantos que em alguns casos as pessoas acabam precisando de terapia.

Quase tudo que se relaciona como coisas boas da velhice são na verdade as características da juventude que alguns velhos ainda não perderam. Não há absolutamente nada de bom na velhice. Mesmo as histórias para contar que tantos citam não são características agradáveis da velhice, muito pelo contrário, são em geral muito deprimentes: De que adianta ter muitas histórias para contar se não tem quem as queira ouvir? No geral ninguém presta atenção em "conversa de velho" e quando o faz é por mera educação, para parecer "bonzinho" diante do grupo ou então para dizer depois coisas do tipo: "Olha só como as coisas eram bizarras no tempo da minha avó!"

Chegar à velhice significa chegar a um ponto em que você recebe um castigo pior do que toda e qualquer doença. Significa que, tendo pecado (se é que existe esse papo besta de pecado) ou não, tendo vivido uma vida útil e ética ou não, não importa, você será castigado da pior maneira possível. É pior do que a pior das doenças porque mesmo a pior das doenças ainda reserva ao portador e aos seus entes queridos um fio ao menos de esperança. Na velhice não há esperança!

Quanto à cabeça, de que adianta a cabeça querer e os sonhos se manterem intactos? O corpo obedece cada vez menos até chegar o momento em que não obedece mais nada. A velhice rouba absolutamente tudo que você teve ou que possa ter tido, ela não permite o menor sonho, o menor desejo, a menor esperança... A não ser na mentira! Não percebo, mas não percebo mesmo, onde está a beleza disso tudo.

É como a história do livre arbítrio sem livre arbítrio nenhum: Ou eu fico velha, cada vez mais velha até não ter mais nada de mim e morrer, ou eu me mato, morro jovem e evito todos os transtornos da velhice. Que merda de livre arbítrio! E a terceira opção? E o plano B? Simplesmente não tem! E ainda chamam de "Livre" !!!!

A decrepitude começa antes dos 60 para a maioria das pessoas. A gente vai aos poucos se deteriorando como uma fruta esquecida na geladeira. É um processo cujo avanço varia de pessoa para pessoa mas que é sempre gradual e irreversível. É esse processo que chamo de feio. E quando falo em feio não me refiro ao culto da beleza, à vaidade que é a mola mestra da sociedade de consumo. Digo feio porque acho feio alguém ir perdendo tudo que tem aos poucos, como numa doença sem cura e sem esperança de cura. Acho feio, acho injusto, acho errado. Sei que é natural, sei que é inevitável. Mas é feio!

E não estou só reclamando dos meus seios caídos, das minhas celulites, dos meus quilos a mais... falo é da velhice que rouba tudo que a pessoa tem e teve, rouba a memória, a lucidez, o vigor, a saúde, a sanidade, o controle do próprio corpo até nos processos mais banais. Estou falando no geral! Não importa se eu sou uma adolescente ou uma velha de 100 anos: a velhice é um castigo tremendo e injusto pra TODO MUNDO! Não importa se sou amarga e suicida, ou feliz e de bem com a vida: a velhice é um castigo tremendo e injusto pra TODO MUNDO! Mesmo que eu morra jovem ou me mate, ainda assim o fato é que a velhice é um castigo tremendo e injusto pra TODO MUNDO! Mesmo você que acha que tem uma lista enorme de coisas bonitas e válidas na velhice (pra mim todas essas coisas são apenas aquelas que a velhice ainda não roubou), você não merece o castigo de perder a força física, a lucidez, a memória, a saúde. VOCÊ NÃO MERECE. NINGUÉM MERECE!

Quando vejo algum velho feliz eu sempre me pergunto se é de verdade. Muitas vezes descobri que não é. Muitas pessoas velhas estão felizes quando em grupo porque se sentem tão sozinhas na maior parte do tempo que quando conseguem estar em grupo demonstram uma alegria imensa, mas passageira, infelizmente. Muitas pessoas velhas mostram felicidade como fuga, é a maneira que encontram de não pensar, de mentir para si mesmas e para os outros para tentar acreditar na própria mentira. Já vi alguns desses dizerem coisas tocantes quando se desarmam um pouco. Há também velhos, e são muitos, que buscam na religião o refúgio de que precisam, esses não perdem um culto ou missa e aceitam com tremenda facilidade a promessa da vida melhor depois da morte porque quase toda a esperança dessa já se foi, sua vida geralmente se resume a ir à igreja e a receber a família e fazer planos e carinhos para os netos, deles mesmos não se lembram mais. Não é fácil ser feliz com doença, decrepitude, isolamento, solidão e essas coisas que, embora jovens e crianças também tenham, são mais freqüentes na velhice, são "marcas" da velhice.

Todo mundo fica achando que só pode ser feliz quem aceita o fato (pra mim a mentira) de que a velhice é bonita, é uma fase legal porque faz parte da vida... Nem vem com essa de que quem viveu bem vai ficar mais conformado por estar indo embora e curtir seus últimos dias! Essas mentiras que inventaram para consolar os coitados dos velhos são absurdas ao extremo!

Muitos dizem que devemos aceitar com sabedoria mais essa fase da vida. Acho que essa é a chave da discórdia. Para a maioria das pessoas, aceitar com sabedoria significa curtir ao máximo o que sobrar de juventude e dizer que isso é uma velhice de qualidade. Para mim aceitar com sabedoria é saber que o que ainda tem de bom no meu corpo e na minha vida é aquilo que a velhice não levou e, por não poder fazer outra coisa além disso, segurar o máximo que puder e aproveitar ao máximo cada fio de juventude que me restar.

E, por favor, que ninguém confunda isso com encher a cara de botox ou esticar a pele até virar plástico. Estou falando de curtir no sentido de aproveitar mesmo, viver, sorrir, amar, viajar... No final das contas fazemos exatamente a mesma coisa, apenas com uma visão oposta. Os resultados podem ser os mesmos, mas uma postura é mentirosa e ditada pelo medo enquanto a outra é mais sincera e racional. Nem preciso dizer que prefiro a segunda...

"Só quem adquiriu sabedoria consegue envelhecer com tranqüilidade." Acho que é meio o contrário. Quase todo mundo diz que vai envelhecer com tranqüilidade, ou com dignidade. Isso não demonstra sabedoria, demonstra desejo se você não é velho e demonstra negação se você já entrou nos "enta". Para mim sabedoria é ter coragem de assumir que tudo o que podemos ver de bom em uma pessoa velha é aquilo que ela, por vontade ou por sorte, ainda não perdeu da sua juventude. É saber que, se viver tempo suficiente, vai chegar um momento que até a vontade será uma característica da juventude roubada pela velhice e essa pessoa terá perdido tudo e morrerá. Todos nós vemos isso o tempo todo e mesmo assim negamos o fato. Isso não é sabedoria, é cultivar uma mentira!

"E o que seria de nós se não envelhecêssemos, se não diminuíssemos o ritmo para depois falecer? a vida seria insuportável sendo eterna, cheia de paixões desenfreadas e uma juventude interminável." Essa é outra mentira das grandes que de tanto serem ditas acabaram por se travestir de verdade! Se não diminuíssemos o ritmo seríamos todos mais produtivos e o mundo seria muito melhor, quantas coisas as pessoas fariam dos 60 aos 90 se ainda tivessem energia para isso? A vida não seria insuportável se durasse mais, isso é balela das grandes. Para quem gosta de viver e conhecer podemos fazer a pergunta: Quanto tempo alguém precisaria para ir a todos os lugares, aprender todas as línguas, ler todos os livros, praticar todas as artes, entender todas as culturas, conhecer todas as pessoas? Não vejo como isso possa ser insuportável.

O problema não é ser amarga, é ser verdadeira. Vou aproveitar ao máximo cada fiapo que me reste de juventude e vou segurar com muita garra cada brilho de energia que ainda tenha, mas em momento nenhum vou mentir e dizer que a velhice é coisa boa. Não há nada que eu possa fazer. A opção do suicídio não me atrai, eu queria que tivesse uma terceira, mas não tem e não posso fazer absolutamente nada quanto a isso, então tenho que envelhecer da melhor maneira possível, só. Pra mim é assim: Não dá pra mudar, não mudo, que mais posso fazer? É da natureza e não posso afetar a natureza a esse ponto, não afeto!

Enfim, não tenho como fazer absolutamente nada, e ninguém tem. A única coisa que posso fazer é escolher se vou viver ou se vou me matar, escolhi viver por várias razões, daí o que posso fazer é viver da melhor maneira que puder afetando para bem tudo aquilo que tenho poder de afetar. Não posso, com essa escolha, evitar a velhice. Então vou envelhecer, já estou envelhecendo, sou e vou ser enquanto conseguir, uma velha muito da espoleta! Vou amar até não poder mais, vou sorrir até não poder mais, vou andar, cantar, brincar, viajar, tudo isso até não poder mais. E, no que depender de mim, vai demorar bastante pra eu não poder mais! Mas... uma coisa eu me nego terminantemente a fazer: Não vou mentir pra mim mesma e dizer que a velhice é linda e que é uma maravilha ser velha, ah, isso eu não vou mesmo! Não posso evitar a velhice, mas me recuso a mentir sobre ela! Posso ser impotente, mas não vou ser mentirosa!

Minha postura é derrotista? Não, pelo contrário! Ninguém precisa ficar amargo, triste e deprimido porque tem coragem de encarar um fato. Todos têm medo e quase todos têm medo da velhice, se não fosse por esse medo não teriam cunhado falsas expressões do tipo: "É preciso cultivar uma velhice saudável", "Todos podemos envelhecer com dignidade", "O importante é manter o espírito jovem"; e a campeã de todas as balelas que já ouvi sobre o assunto: "Melhor idade". Não fosse o medo as expressões seriam verdadeiras do tipo: "A velhice é um horror, por isso vou segurar com força e enquanto puder o que me restar de juventude no corpo e na mente."

Justamente pelo fato de achar que sofremos uma tremenda injustiça da vida é que eu quero e vou tirar mais proveito dela! Será que todo mundo só consegue achar que se alguém não concorda com o mundo Pollyana tem que obrigatoriamente ser alguém amargo e infeliz? Um dia meus netos vão me usar como exemplo e vão citar de mim as coisas que a velhice demorar mais pra me roubar, e meu ânimo pra brigar contra a apatia vai ser o último a cair!

Acho a velhice muito feia, tão feia que quero adiá-la o máximo que puder! Ela é a doença incurável que rouba tudo, a única coisa que nos resta a fazer é não entregar nada! Ser feliz com o que a velhice ainda não levou e segurar essas coisas com garra! Se ela vai roubar tudo que tenho e se isso é inevitável, tudo bem, mas eu posso e vou resistir ao máximo! Só não vou, e não entendo que as pessoas façam isso, mentir para mim mesma e dizer que esse roubo é bom!

- Divina de Jesus Scarpim é professora, natural de Monte Aprazível, Estado de São Paulo, mora em Resende, casada, mãe, adora ler, é rabiscadora em tempo livre, odeia falta de educação, não entende de religião e é chocólatra assumida.

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Relação de sites desta postagem:

Blog da Divina de Jesus Scarpim
http://vida-cadela.blogspot.com/2008/01/desmistificando-velhice.html

Blog da Nice Pinheiro
http://nicepinheiro.blogspot.com/2008/02/arte-de-envelhergisela-rao.html
http://nicepinheiro.blogspot.com/2008/02/arte-de-envelhecer-nice-pinheiro.html

Endereços no Site Oficial de Resende, onde as duas últimas crônicas também foram publicadas:
http://www.resende.com.br/1667/arte-de-envelhergisela-rao/
http://www.resende.com.br/1685/arte-de-envelhecer-nice-pinheiro/

I bibida prus músicus!