quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Ópaquió! Seu nazarentu, fiadazunha!

Devido ao fato da nossa região ser abundantemente habitada por um número considerável de mineiros e seus descendentes, e onde mineiro abunda a vida é mais legal, superando, seguramente, até o número de nativos, é que resolvi publicar neste espaço algumas informações de vital importância para o relacionamento com eles, que possuem um dialeto próprio da nossa língua e cujo modo de falar deixa o interlocutor algumas vezes enrolado.

São eles responsáveis em grande parte pelo extraordinário progresso em todos os campos da atividade humana de quase todos os municípios do Vale do Paraíba, região localizada entre as Serras do Mar e da Mantiqueira, dentro dos Estados de São Paulo e do Rio de Janeiro, desde Jacareí, passando por São José dos Campos e descendo até a sua foz em São João da Barra, alííí, logo depois de Campos, com Resende no meio dessa caminhada.

Em nossa região, vêm principalmente das bandas do sul do Estado de Minas Gerais, atravessando os contrafortes da Serra da Mantiqueira e se espalhando feito praga por tudo quando é lado, transformando-se como o ar que respiramos: estão em tudo quanto é lugar!

É como resultado dessa infiltração bem-vinda e da sua permanência entre nós - que se estende, via de regra, pelos restos de suas vidas, pois adotam sem reservas a terra que os acolheu e ainda os acolhe sempre carinhosamente - que aqui também constroem suas famílias, quando não já vêm todos juntos, o que é o normal, ampliando suas linhagens familiares, misturando-se geneticamente com outros mineiros e com os próprios papagoiabas. É uma tarefa muito difícil de se encontrar por estas redondezas uma família que não tenha um pouco de sangue mineiro correndo nas veias limpas ou entupidas de alguns de seus integrantes.

São, por natureza, alegres o tempo todo, têm duas pernas, dois braços, tronco e cabeça, igualzinho aos nativos, atenciosos e profundamente religiosos, assim como donos de uma conversa alegre que os identifica logo à primeira vista, ou à primeira ouvida ou entreouvida, mas de um jeito de falar que a princípio pode ser cômico e estranho e que é nada mais, nada menos do que um dialeto da Língua Portuguesa, o que os transformam em motivo folclórico de piadas, com a vantagem sempre permanecendo do lado deles, livrando-se sempre do pior e terminando invariavelmente com uma saída estratégica de banda.

Prestando, pois, uma singela homenagem a todos os meus amigos mineiros que aturam as minhas brincadeiras, também aos outros istranhu ou discunhecidu, à minha querida mãezinha que nasceu em Itanhandu, município integrante do chamado Circuito das Águas, de onde provêm águas minerais como a São Lourenço, a Caxambu e a Lambari, que nada ficam a dever às melhores águas do mundo, situado numa altitude de 886 m e apresentando uma temperatura média anual de 18,8 ºC (Óia só qui maravilha, sô!), é que resolvi incluir neste blog um pequeno Dicionário Minerês – Português com mais algumas observações lingüísticas pertinentes.

Trata-se, na realidade, da compilação de algumas palavras e expressões utilizadas pelos mineiros feita por algum maluco beleza, que já foram transformadas em sinais eletrônicos e passearam por toda a web, não sendo novidade, portanto, o que estou transmitindo. Quero, apenas e somente, guardá-la nos meus arquivos para - Quem sabe? – um dia consultá-la na pré-velhice da minha vida para defender arguma tese de doutoramento da nossa língua, o que também pode vir a ser o caso de argum outro interessado.

Encontrei-a no excelente site do Fernando Stickel, meu amigo e contumaz fornecedor de matérias para o meu blog, para o que sempre lhe peço a devida autorização e no que sempre sou brindado com sua generosa benevolência. Recomendo a todos uma visita ao seu site, que é de uma beleza diferente de muitos outros e marcante pelos assuntos escolhidos, incisivo nas suas opiniões, instrutivos umas vezes, outrs alegres e humorísticas, sem vulgaridades, porém.

Entonces, vamu qui vamu, qui mais tarde vai chuvê!

Dicionário Minerês - Português

Nota do compilador-assistente: A maioria das expressões aplica-se a todas as falas dos Minerin, porém aquelas cuja pronúncia se aproxima do carioquês são da região compreendida entre Belrzont (ver item Belrzont no dicionário) e a divisa com o estado do Hhio de Janeiro.

MINERIN: Típico habitante das Minas Gerais.

UAI: O correspondente ao UÉ dos paulista. Uai é uai, uai.

UAAAI UAAAI UAAAI UAAAI UAAAI: Sirene de ambulância mineira.

ÉMEZZZ?: Minerin querendo confirmação.

ÓIQUI!: Minerin tentando chamar a atenção pra alguma coisa.

ÓIQUIEU!: Olha eu aqui! Minerin tentando chamar a atenção para si.

ÓPAQUIÓ! Seu nazarento, fiadazunha!: Olha pra aqui, olha...! Seu nazarento, fiadaputa! (É também nome do meu outro blog, onde a barra é mais pesada, mas tem muita coisa legal lá. É só dar uma cutucadinha aqui para ir lá e conferir!).

TXII: O irmão do pai ou da mãe (mulher do txii é a txxiiiiaa).

PÃO DJI QUEJ: Alimento fundamental na mesa mineira, disputa com o TUTU a preferência dos minerin.

TUTU: Mistura de farinha de mandioca com feijão triturado e uns temperin lá da horta.

TREM: Palavra que nada tem a ver com transporte e que quer dizer qualquer coisa que o minerin quiser. Ex. Já lavô us trem? Eu comi uns trem. Vamo lá tomar uns trem? Nun vô visti ess trem. Vô ali na privada vazê um trem.

ONCÊVAI?: Onde você vai?

MAIS QUI BELEEEZZZ!: Expressão que exprime aprovação, quando gostou de alguma coisa.

NNN: Gerúndio do minerês. Ex. Brincannnu, corrennnu, innnu, vinnnu.

BELRZONT: Capital de Minas Gerais. FIADAZUNHA: fiadaputa.

PÓPÔPÓ’?: A esposa perguntando ao marido se pode por o pó (para fazer café).

PÓPÔPOQUIN!: Resposta afirmativa do marido, pão-duro como todos mineirin.

JIGIFORA: Cidade mineira próxima ao estado do Hhio de Janeiro, o que confunde a cabeça do minerin que não sabe se é minerin ou carioca.

CÔFÓFÔVÔ!: Conforme for eu vou.

ÓIAÍ!: Olha aí.

SÔ: Expressão indefinida que acompanha frases de exclamação.

TÓ!: Toma!

BÃO: Bom

DIMAIS DA CONTA: Muito (usada em frases como “Bom demais da conta,sô.”)

SUFÁ: É o mesmo que sofá em qualquer lugar do Brasil, é o mezzzzzzzz que TUMATE.

PASSEIO: O mesmo que carçada.

ONTI: O mesmo que ontem.

ANTONTI: Antes de ontem.

MINEIRÊS, procêis cunhecê: Falá de minerim é assim mezzz, estes são os 15 mandamentos da língua portuguesa dos minerin de Belzonte:

Usar sempre i no lugar de e: (Ex.: minino, ispecial, eu i ela, vistido).

Dizer ÉMEZZZ? quando quiser uma confirmação.

Se quiser chamar atenção diga simplesmente ÓIQUIÓ.

Se estiver com fome coma PÃO DJI QUEJJJ…

Na falta de vocabulário específico utilizar a palavra TREM que serve pra tudo, exceto como meio de transporte. Neste caso, é troço.

Se aprovar alguma coisa solte um sonoro MAIS QUI BELEEEZZZ!

Prá fazer café, primeiro pergunte PÓPÔPÓ? Achou pouco, ficou ralo? Pergunte: PÓPÔ MAPOQUIM DIPÓ?

Se você não sabe onde está e nem para onde vai, pergunte simplesmente: ONCOTÔ? PRONCOVÔ?

Se não estiver certo de comparecer, diga simplesmente CÔFÓFÔVÔ, que quer dizer: conforme for, eu vou.

PRONDÉQUIVÔ?: Para onde é que eu vou?

PUR INCRÍVIU QUI APAREÇA...: O verbo aparecer pros minerim não significa surgir, mas sim, parecer, ser semelhante a.

Iscrusive...: É essa é uma das mais utilizadas e significa inclusive.

POBREMA: Essa é do piru pra explicar. Acontece que os mineiros têm dificuldade de pronunciar os grupos consonantais “pl” e “bl”, como em problema, planta, platina, plebiscito, blaser, blasfêmia. Então trocam todos os “l” por “r”, e fim de papo. Mas não conseguem, os mais eruditos, explicar porque em “problema” eles assassinam o “r” da sílaba “pro”.

Issu tudu é brá-brá-brá!: Tão vennu! issu significa"Issu tudu e blá-blá-blá!"

Se o motivo da dúvida for algo que você tem que fazer, explique, “Vou fazer um NIGUCIM e volto logo”.

Ao procurar alguém que concorde com você, dispare um NUÉMEZZ?

Usar sempre duas negativas prá deixar claro que você não sabe do que está falando “NUM sei NÃO”.

Use sempre o diminutivo IMMM, tipo piquininimm, lugarzimm, bolimm, minerim, boiolimmm, viadimmm (no caso de cruzeirense).

Ao terminar uma frase, conclua com a palavra SÔ.

- I bibida prus músicus, sô!

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