domingo, 22 de novembro de 2009

Sobre dirigir à noite com óculos escuros

Recebi por email da minha amiga Maria Cristina Campos Aloísio uma informação deveras importante e, por isso, reproduzo integralmente o teor contido no citado email.

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Fenômenos explicados da visão

O texto abaixo foi objeto de mensagem transmitida há alguns dias para nossos* leitores, tendo em vista sua utilidade como informação. Fomos então surpreendidos e honrados com um brilhante comentário técnico sobre o assunto, feito pelo leitor Dr. Ricardo Guimarães, famoso médico oftalmologista da Grande BH, presidente da Clínica Oftalmológica Dr. Ricardo Guimarães, sita no bairro Vila da Serra, em Nova Lima, na divisa sul de Belo Horizonte.

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Texto enviado

Como conseguir boa visão enquanto dirige sob forte chuva.

Não se sabe por que, mas parece que funciona bem quando chove muito, segundo a sugestão de um policial que a experimentou e a confirmou. É útil, até em condução noturna. Nós, motoristas, ligamos os limpadores de para-brisas em velocidade rápida ou máxima durante chuvas pesadas, mas a visibilidade ainda é bastante ruim.

Se você enfrentar uma situação assim, ponha os óculos de sol (qualquer modelo serve).

Será como um milagre! De repente, sua visibilidade na frente de seu carro fica perfeitamente clara, como se não estivesse chovendo! Assim, mantenha sempre um par de óculos de sol no porta-luvas do carro para que você tenha condução segura, com boa visão em caso de chuva.

Você também pode salvar a vida de alguém, repassando essa informação a ele/ela. Tente experimentar! Será incrível!

Você ainda verá as gotas no pára-brisa, mas não a lâmina de chuva. Você poderá ver onde a chuva salta para fora da estrada e os respingos dos pneus do carro à sua frente. Esta pequena dica deveria ser incluída na formação do motorista.

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Comentário técnico do oftalmologista Dr. Ricardo Guimarães

Walter, é verdade!

Mas atenção: VOCE VERÁ BEM MELHOR OBJETOS EM MOVIMENTO, mas os OBJETOS PARADOS, VOCE VERÁ BEM PIOR. Esse é um fenômeno curioso, não explicável pela lógica pela qual nós, os oftalmologistas, entendemos a visão (sistema único), mas hoje já temos vários trabalhos científicos produzidos pela neurociência mostrando o porquê.

Quando você faz um exame oftalmológico, seu oftalmologista geralmente usa um teste de letras ou números para saber qual a menor letra ou número que você consegue ler. Se você conseguir ver a menor delas, ele diz que sua visão é 20-20, que é considerada “VISÃO NORMAL”. Na verdade esse teste mede apenas sua discriminação visual e você poderá pesquisá-la na web como “ACUIDADE DE VERNIER”, que é medida por um “TESTE DE SNELLEN”. Estamos fazendo esse mesmo teste há mais de 150 anos. Continua sendo um bom teste, muito útil na prescrição de óculos, mas não nos permite afirmar que a visão seja normal apenas por ele.

Seria como avaliar uma orquestra pelo toque do violinista. Esse teste mede apenas nossa capacidade de discriminação visual ESTÁTICA.

Nós, os oftalmologistas, estudamos apenas a visão estática, não nos interessamos por outros estudos como, por exemplo, pela VISÃO DINÂMICA, de movimentos. Apesar de ela ser a mais importante para examinar a visão de um desportista ou de um motorista, sua avaliação não é usada pelos treinadores desportivos ou requerida pelo DETRAN.

Nós não temos apenas um sistema visual, na verdade temos hoje reconhecidos 39 SUBSISTEMAS DE PROCESSAMENTO VISUAL QUE FUNCIONAM DE FORMA INDEPENDENTE e em PARALELO. (NONA 2009). Você pode ter defeito em um subsistema ou suprimi-lo e ainda manter os outros funcionando normalmente ou, como é o caso do uso dos óculos escuros à noite, até mesmo melhorá-lo. Vou lhe dar um exemplo de outros subsistemas. Lembra do lusco-fusco das 6 horas na boca da noite quando começa a escurecer e você fica confuso, não sabe se acende ou não os faróis? Naquela hora os dois sistemas estão competindo e para melhorar você precisa desligar um. Chegando a noite você estará desligando seu SISTEMA FOTÓPICO (visão do dia) e ligando o SISTEMA ESCOTÓPICO de visão noturna, a visão melhora novamente. A visão melhora porque você passou a usar apenas um sistema.

Quando você coloca os ÓCULOS ESCUROS à noite, com chuva, a visão de detalhes está prejudicada pela chuva, porque VOCÊ SUPRIME O SISTEMA PARVOCELULAR, responsável pela aquisição de imagens de detalhes em alto contraste e paradas (menos importante na chuva) E ESTIMULA O SISTEMA MAGNOCELULAR, RESPONSÁVEL PELAS IMAGENS EM MOVIMENTO e, em BAIXA ILUMINAÇÃO, BAIXO CONTRASTE e em MOVIMENTO. Você cria também uma melhor adaptação ao escuro aumentando a sensibilidade dos seus olhos. As formas em movimento (que são as que lhe interessam nessa hora) ficam bem mais definidas. A lente escura funciona como um filtro grosseiro.

Mas atenção ao aviso de um oftalmologista: NÃO FAÇA ISTO PELA PRIMEIRA VEZ DIRIGINDO em situação arriscada. Você precisa treinar porque é necessário aprender a usar visão com um óculos diferente e eventualmente por causa de outras alterações de sua visão, isso pode não ser tão vantajoso para você. Visão, assim como a fala e a marcha, é um processo aprendido. Lembre-se de que quando você coloca óculos de grau pela primeira vez a referência dos objetos é modificada e seria um tanto arriscado você mudar a sua visão enquanto está dirigindo sem antes testar em condições seguras.

Crianças disléxicas, que possuem um sistema magnocelular deprimido, são tratadas por um processo semelhante, filtros de supressão do parvocelular e estimulação do magnocelular.

Parabéns ao policial leigo que fez esta observação!

Ricardo Guimarães

Oftalmologista

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Comentário meu (Marcelo Alvim)

No dia que recebi a tal mensagem fiz uma experiência e constatei que o uso de óculos escuros à noite realmente diminui o ofuscamento de gotas d'água de chuva e dos faróis de carros que trafegam em sentido contrário. O efeito é surpreendente!

Na condição de engenheiro, estive refletindo sobre o assunto e concebi uma explicação matemática muito simples que pode esclarecer o fenômeno.

A intensidade luminosa emitida por um objeto pode ser medida em "candelas", unidade internacional de medida de intensidade de luz emitida por uma fonte em todas as direções. Vamos considerar um exemplo numérico muito fácil de entender. A ordem de grandeza dos números foi escolhida de modo absolutamente aleatório. Que me perdoem os técnicos mais puristas do assunto.

Imagine dois objetos colocados um do lado do outro, um muito luminoso e outro pouco luminoso. O objeto luminoso irradia uma luz com intensidade de 1000 candelas; e o objeto escuro, uma intensidade de apenas 40 candelas. Por causa da grande diferença de luminosidade entre eles (1000 – 40 = 960 candelas), pode ser difícil acomodar a visão para se enxergar os dois objetos, de modo confortável e nítido. O mais claro pode provocar ofuscamento.

Agora imagine uma pessoa tentando enxergar os mesmos objetos utilizando-se de óculos escuros que reduzem à metade a intensidade de todo fluxo luminoso que atravessa as suas duas lentes. A imagem do objeto luminoso atingirá a pupila com um fluxo luminoso de apenas 500 candelas, ou seja, 1000 candelas reduzidas de 50%. E a imagem do objeto escuro atingirá a pupila com apenas 20 candelas, ou seja, 40 candelas também reduzidas à metade.

No segundo caso, a diferença de luminosidade passou a ser de apenas 480 candelas (500 – 20 = 480), ou seja, o ofuscamento foi bastante reduzido, em números absolutos, de 960 para 480 candelas.

Cabe aqui enfatizar que um ofuscamento é provocado pela intensidade da diferença de luminosidade irradiada por fontes de luz de intensidades diferentes. Por exemplo, um carro trafegando em sentido contrário com faróis altos durante o dia não incomoda ninguém, porque a diferença de luminosidade entre a luz dos faróis e a luz ambiente é muito reduzida na presença da luz solar.

Marcelo Alvim

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- O * depois de “nossos” deve se referir à lista de correspondentes da Clínica Oftalmológica Dr. Ricardo Guimarães.

- A Clínica Oftalmológica Dr. Ricardo Guimarães está diretamente ligada ao Hospital de Olhos Dr. Ricardo Guimarães (
link), que é uma referencia internacional em oftalmologia.

- Fonte: Recebi com um email da minha amiga Maria Cristina Campos Aloisio

- I bibida prus músicus!

2 comentários:

Marcelo de Carvalho Rodrigues disse...

Boa noite.

Fico mais com as considerações simples e lógicas de Ricardo Alvin.

As considerações do Oftalmologista Guimarães, são complicadas e vão frontalmente contramão de tudo que se sabe há muito sobre filtros amarelos e ambar. Eles realmente aumentam o contraste de cores e diminuem os picos de luz o que obviamente permite uma visão melhor e com menos cansaço visual.
Marcelo CR

Norival R. Duarte disse...

Obrigado, Marcelo, por marcar a sua presença no meu blog com o seu comentário.

Grande abraço e volte sempre!