- Sabe aquela do acidente de trabalho do pedreiro de Cascais?
Chega uma hora na vida de todo colunista de humor que se faz necessário contar uma piada. Ao completar por estes dias três anos de militância nas páginas de ÉPOCA, acho que chegou a minha vez. Os leitores devem estar pensando 'até que enfim!' e, sinceramente, espero não decepcioná-los ainda mais com a notícia de que estou entrando de férias sem lhes dar folga - daí o novo formato provisório da coluna.
Devo esclarecer, também, que a história a seguir não chega a ser propriamente de minha autoria, embora, pelo menos que eu saiba, seja o único a contá-la desde que, há cinco anos, chegou-me às mãos datilografada em papel timbrado do Tribunal Judicial da Comarca de Cascais. Trata-se, oficiosamente, do depoimento em juízo de um pedreiro português vítima de um terrível acidente de trabalho. Até por conta de minhas origens lusitanas - meu avô é pai dos botequins de esquina do Rio Antigo -, decidi que aquilo era uma piada. Se não for, peço desculpas ao operário patrício e aos leitores.
Lá vai:
“Sou assentador de tijolos. Estava a trabalhar sozinho no telhado de um edifício de seis andares e, ao terminar o serviço, verifiquei que tinham sobrado 250 quilos de tijolos. Em vez de os levar à mão para baixo, decidi colocá-los dentro dum barril e descê-los com a ajuda de uma roldana fixada num dos lados do edifício.
Desci ao térreo, atei o barril com uma corda, voltei ao telhado, puxei o barril para cima e coloquei os tijolos dentro dele. Voltei para baixo, desatei a corda e segurei-a com força de modo que os 250 quilos de tijolos descessem devagar.
Devido à minha surpresa por ter saltado repentinamente do chão (meu peso é de 80 quilos), perdi minha presença de espírito e esqueci-me de largar a corda. É desnecessário dizer que fui içado do chão a grande velocidade. Na proximidade do 3º andar, bati no barril que vinha a descer. Isso explica a fratura de crânio e a clavícula partida.
Continuei a subir a uma velocidade ligeiramente menor, não tendo parado até os nós dos dedos das mãos estarem entalados na roldana. Felizmente, já tinha recuperado minha presença de espírito e consegui, apesar das dores, agarrar a corda. Mais ou menos ao mesmo tempo, o barril com os tijolos caiu no chão e o fundo partiu-se. Sem os tijolos, o barril pesava aproximadamente 25 quilos. Como podem imaginar, comecei a descer rapidamente. Próximo ao 3º andar, encontro o barril que vinha a subir. Isso justifica a natureza dos tornozelos partidos e das lacerações das pernas, bem como da parte inferior do corpo. O encontro com o barril diminuiu a minha descida o suficiente para minimizar os meus sofrimentos quando caí em cima dos tijolos e, felizmente, só fraturei três vértebras.
Lamento, no entanto, informar que enquanto me encontrava caído sobre os tijolos - incapacitado de me levantar e vendo o barril acima de mim - perdi novamente a presença de espírito e larguei a corda. O barril pesava mais que a corda e então desceu, caiu em cima de mim, partindo-me as duas pernas.
Espero ter dado a informação solicitada do modo como ocorreu o acidente.”
- Entendeu?
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- I bibida prus músicus!
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