terça-feira, 2 de março de 2010

Envelhecer


Envelhecer, cheguei à conclusão, é uma dádiva!

Atualmente, é provável que, pela primeira vez em minha vida, sinta-me como a pessoa que sempre quis ser. Não, não me refiro ao meu corpo, diante do qual às vezes me desespero, frente às rugas, aos olhos empapuçados, ao traseiro flácido.

E, com freqüência, volto ao passado, quando vislumbro aquele antigo vulto em meu espelho (Que se assemelha à minha mãe!), mas esses sentimentos já não me fazem sofrer mais: são passageiros.

Nunca trocaria os meus amigos incríveis, minha vida maravilhosa, minha família adorada, por cabelos menos grisalhos ou uma barriga menos proeminente.

Conforme envelheci, tornei-me mais amável e menos crítico comigo mesmo. Tornei-me o meu melhor amigo.

Não me recrimino por ter saboreado aquele docinho a mais, por não ter feito a minha cama, ao acordar, ou por ter comprado aquele enfeite tolo que não precisava, mas que dá um toque de modernidade ao meu jardim.

A minha idade me permite ser excêntrico, a manter tudo fora de ordem, posso ser extravagante.

Testemunhei a partida precoce deste mundo de muitos amigos queridos; e eles não puderam vivenciar plenamente a liberdade grandiosa implícita no envelhecer.

Qual é o problema, se eu decidir ler ou ficar ao computador até as quatro da manhã, e acordar somente ao meio-dia?

Serei meu próprio parceiro na dança, ao ritmo dos sucessos inesquecíveis dos anos 60 e 70, e se, ao mesmo tempo, quiser chorar por um amor perdido... Posso fazê-lo!

Caminharei pela praia com um traje de banho colado ao meu corpo obeso, e mergulharei no mar despreocupadamente, se assim desejar, apesar dos olhares críticos das pessoas mais jovens. Elas também vão envelhecer.

Sei que algumas vezes me esqueço de algumas coisas. No entanto, repito: é melhor que nos esqueçamos de alguns episódios da vida. Algumas vezes, recordo-me de coisas importantes.

Com o passar dos anos, é claro, também sofri desilusões. Como não sentir a perda de uma pessoa amada, ou manter-se indiferente diante do sofrimento de uma criança, ou até mesmo quando o bichinho de estimação de alguém é atropelado por um carro?

Na verdade, ter o coração ferido, é o que nos dá força, discernimento e compaixão. Um coração que nunca foi ferido, é duro, estéril, nunca sentirá a alegria da imperfeição.

Sou, portanto, abençoado por ter vivido tanto, o que me permitiu ver meus cabelos grisalhos e ter as marcas de minha juventude para sempre gravadas nas profundas rugas de meu rosto. Muitos nunca riram, outros morreram antes de terem seus cabelos grisalhos.

Conforme envelhecemos, é mais fácil sermos otimistas. Preocupamos-nos menos com o que pensam as outras pessoas. Não nos policiamos mais. Temos, até mesmo, o direito de estar errados.

Portanto, gosto de ser idoso. Isto me libertou. Gosto da pessoa na qual me tornei.

Não vou viver para sempre, mas enquanto ainda estiver por aqui, não desperdiçarei tempo lamentando o que poderia ter sido, nem me preocupando com o futuro. Posso agora comer todas as sobremesas que quiser, todos os dias (Se estiver com vontade, coisa que nunca falta!).

Que a amizade com os meus amigos nunca se acabe, principalmente porque é verdadeira e pura! Que eles apresentem sempre em seus rostos aqueles sorrisos que são exteriorizações das alegrias que sempre moram em seus corações. Hoje, amanhã e sempre!

Autor: Desconhecido
Texto traduzido por: Mauro Papelbaum

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- Fonte: De um email que me foi enviado pelo meu cunhado Walter, que mora lá em Salvador.

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- I bibida prus músicus!

4 comentários:

valter ferraz disse...

Norival,
bom ler um texto desses. Às vezes a gente se esquece. Eu que tô ficando véio, me encontrei tranquilamente enquanto lia.
Abração i pinga prá nóis!

Divina disse...

Não concordo nadica de nada com esse texto. Tudo que ele diz aí que é legal de se fazer quando se é velho eu já fazia na juventude e sentia muito mais prazer na época do que sinto agora. Quanto a comer doces era justamente na minha juventude que eu podia comê-los à vontade, hoje em dia não posso, faz mal pra saúde, que já não é aquelas coisas, e muitos de nós ficam diabéticos fácil fácil. Continuo achando que a velhice é uma merda e estou velha sob protesto, sempre sob protesto! Não morro de teimosa, mas aceitar a velhice como algo bom? Jamais!

Norival R. Duarte disse...

É verdade, Valter, que nós, sessentões, nos encontremos lendo esse texto, principalmente tendo sido feito como ele o foi, em tom alegre.

Grande abraço i mais pinga pra nóis!

Norival R. Duarte disse...

Querida Divina:

Eu também odeio a velhice tanto quanto você, pois “Acho a velhice muito feia, tão feia que quero adiá-la o máximo que puder! Ela é a doença incurável que rouba tudo, a única coisa que nos resta a fazer é não entregar nada! Ser feliz com o que a velhice ainda não levou e segurar essas coisas com garra! Se ela vai roubar tudo que tenho e se isso é inevitável, tudo bem, mas eu posso e vou resistir ao máximo!”

Esse trecho entre aspas é um pedaço do último parágrafo da sua postagem intitulada “Desmistificando a velhice” (publicada em 05.01.08), que reproduzi no meu blog Norrival (18.08.08), dentro de uma postagem que batizei de “Eita, velhice excomunguenta!”.

Pois bem: o que você escreveu nesse parágrafo resume, justa e objetivamente, os pensamentos desta mensagem “Envelhecer”, com os quais você diz não concordar!

Uma ótima semana e um grande abraço.