quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Educar

Há tempos venho pensando em como publicar esta crônica do Rubem Alves no meu blog, porque a acho divina e o seu foco é assunto que me engolfa de carinho sempre que me envolvo com os personagens que ela descreve: professores e crianças. E não é para menos: minha esposa é professora e ao longo de nossa vida de namorados, noivos e casados sempre a acompanhei nos seus trabalhos escolares, correção de provas e outros serviços que sempre sobrava para ela fazer em casa.

Tenho-a, a crônica, numa mensagem em PPS, com fotos maravilhosas e uma música de fundo espetacular (Tema musical: One Man’s Dream, - Yanni) e uma formatação caprichada. Ela me foi enviada por duas amigas correspondentes, a Ângela Tomaz Ventura e a Delza de Andrade, quase ao mesmo tempo.

Cultivo uma grande frustração nas minhas diabruras de blogueiro porque não consigo acrescentar mensagens com sons no meu blog, coisa que aliás nunca vi em nenhum dos milhares de blogs pelos quais já naveguei, salvo se for um vídeo, mas, nem todos os vídeos encontrados na Internet são colocados à disposição para downloads dos seus navegantes. Exemplo: Achei diversas versões dessa mensagem em PPS no Google, com som, porém sem possibilidade de transferência para blogs. Pelo menos para mim, que não consegui, apesar de inúmeras tentativas.

Então, poderia simplesmente indicar o link do Google para que vocês mergulhassem de cabeça nele. É a mesma cópia que está em meu poder. Mas o meu interesse, a minha vontade maior é que eu tenho porque tenho que ter registrada no meu blog esta maravilhosa crônica do Rubem Alves, mesmo com a ausência do som. E hoje virou birra, mesmo!

Em sendo assim, vou satisfazer o meu ego publicando a mensagem nele do jeito que me é possível e, assim, eliminar qualquer motivo que possa me levar a ser um coroa rabugento, ranzinza, estressado e mais birrento ainda. E vamu qui vamu!

- - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
Educar


“Educar é mostrar a vida a quem ainda não a viu. O educador diz: “- Veja!”- e, ao falar, aponta. O aluno olha na direção apontada e vê o que nunca viu. Seu mundo se expande. Ele fica mais rico interiormente. E, ficando mais rico interiormente, ele pode sentir mais alegria e dar mais alegria - que é a razão pela qual vivemos.

Já li muitos livros sobre psicologia da educação, sociologia da educação, filosofia da educação – mas, por mais que me esforce, não consigo me lembrar de qualquer referência à educação do olhar ou à importância do olhar na educação, em qualquer deles.

A primeira tarefa da educação é ensinar a ver. É através dos olhos que as crianças tomam contato coma beleza e o fascínio do mundo. Os olhos têm de ser educados para que nossa alegria aumente.

A educação se divide em duas partes: educação das habilidades e educação das sensibilidades. Sem a educação das sensibilidades, todas as habilidades são tolas e sem sentido. Os conhecimentos nos dão meios para viver. A sabedoria nos dá razões para viver.

Quero ensinar as crianças. Elas ainda têm olhos encantados. Seus olhos são dotados daquela qualidade que, para os gregos, era o início do pensamento: a capacidade de se assombrar diante do banal.

Para as crianças, tudo é espantoso: um ovo, uma minhoca, uma concha de caramujo, o vôo dos urubus, os pulos dos gafanhotos, uma pipa no céu, um pião na terra. Coisas que os eruditos não vêem.

Na escola eu aprendi complicadas classificações botânicas, taxonomias, nomes latinos – mas esqueci. Mas nenhum professor jamais chamou a minha atenção para a beleza de uma árvore ou para o curioso das simetrias das folhas.

Parece que, naquele tempo, as escolas estavam mais preocupadas em fazer com que os alunos decorassem palavras que com a realidade para a qual elas apontam. As palavras só têm sentido se nos ajudam a ver o mundo melhor. Aprendemos palavras para melhorar os olhos. O ato de ver não é coisa natural. Precisa ser aprendido. Há muitas pessoas de visão perfeita que nada vêem. O ato de ver não é coisa natural. Precisa ser aprendido. Quando a gente abre os olhos, abrem-se as janelas do corpo, e o mundo aparece refletido dentro da gente.

São as crianças que, sem falar, nos ensinam as razões para viver. Elas não têm saberes a transmitir. No entanto, elas sabem o essencial da vida. Quem não muda sua maneira adulta de ver e sentir e não se torna como criança jamais será sábio. “

Rubem Alves

- - - - - - - - - - - - - - - - - - - -

Rubem Alves

Nasceu em 15 de setembro de 1933, em Boa Esperança, Minas Gerais.

Mestre em Teologia, Doutor em Filosofia, psicanalista e professor emérito da Unicamp. Tem três filhos e cinco netas

Poeta, cronista do cotidiano, contador de histórias, um dos mais admirados e respeitados intelectuais do Brasil.

Ama a simplicidade, ama a ociosidade criativa, ama a vida, a beleza e a poesia, ama as coisas que dão alegria, ama a natureza e a reverência pela vida, ama os mistérios, ama a educação como fonte de esperança e transformação, ama todas as pessoas, mas tem um carinho muito especial pelos alunos e professores.

Ama Deus, mas tem sérios problemas com o que as pessoas pensam e/ou dizem a Seu respeito.

Ama as crianças e os filósofos – ambos têm algo em comum: fazer perguntas.

Ama, ama, ama, ama.

"As crianças não têm idéias religiosas, mas têm experiências místicas. Experiência mística não é ver seres de um outro mundo. É ver este mundo iluminado pela beleza.” Rubem Alves

- - - - - - - - - - - - - - - - - - - -

- Na mensagem que recebi consta o email do seu programador: um_peregrino@hotmail.com.

- I bibida prus músicus!

4 comentários:

Rê Cicca disse...

Taí um blog gostoso de ler, interessante. Gostei!
Parabéns ao blog Norrival.

Norrival também lê
http://www.descompensando.blogspot.com/

Divina disse...

Sempre que leio essa crônica me lembro com orgulho de um Dia da Árvore num ano que foi o primeiro ano em que fui profesora. Fui falar das árvores e falei delas como amante que sou: Falei de como são lindas (não existem árvores feias), de como são paz e disse minha crença que já naquela época era meu ateismo ainda não descoberto: As árvores são os seres vivos mais maravilhosos do planeta, não e nunca os homens.

Terminei dando "endereços" de árvores maravilhosas que eles poderiam ver pela cidade, eu conhecia várias.

Isso aconteceu em Santo André - SP e, desde esse ano, sempre repito essa aula, seja no Dia da Árvore ou não. E sempre que me mudo para outro lugar, uma das primeiras coisas que faço é "caçar" as mais belas árvores do lugar para dar seus "endereços" para os alunos.

Em geral eles gostam dessa aula porque sentem que a minha paixão é de verdade.

Norival R. Duarte disse...

Obrigado,Rê Cicca, pelos elogios e pela sua agradável visita.

Volte sempre!

Um grande abraço.

Norival R. Duarte disse...

Grande Divina!

Você fez um comentario muito bonito, mostrando um lado bastante sensível da sua personalidade, assim como uma atitude positiva para com os seus alunos.

É um comentário que poderia perfeitamente ter sido uma postagem no seu blog MINHAS PALAVRAS DOS OUTROS.

Grande abraço.